Carlos Ruiz

Carlos Enrique Ruiz Ferreira é mestre e doutor pelo Departamento de Ciência Política da USP; pós doutor pelo Departamento de Filosofia da USP; professor doutor associado de Relações Internacionais da UEPB. Atualmente é coordenador geral do Centro de Estudos Avançados em Políticas Públicas e Governança (CEAPPG) e coordenador do curso de Relações Internacionais da UEPB
Carlos Ruiz

Democracia ou fascismo? O Brasil e as eleições

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A votação do dia 2 de outubro de 2022 marcou com ferro quente as letras do fascismo no peito da democracia. A sociedade conservadora e reacionária mostrou-se sem pudor. Não há mais vergonha nem acanhamento em preferir a violência estrutural à constituição federal e seus direitos consagrados.

O privilégio de classe, de raça, de gênero, encontrou no símbolo da bandeira nacional seu escudo e arma. O bolsonarismo é a perpetuação, à la contemporânea, do colonialismo em sua mais ácida crueza.

O voto envergonhado era daqueles que menosprezam os direitos humanos, a ciência e tecnologia, o respeito à liberdade de expressão e fé, em suma: daqueles que não gostam da democracia. Para eles, a Democracia, a justiça social é comunismo. E o comunismo é uma ideologia do inferno.

No final das contas, é preciso compreender que se trata sobretudo de uma disputa de ideias, de hegemonia. Antonio Gramsci nunca foi tão atual. Mas não podemos esquecer que quem possibilitou a abertura da caixa de pandora foi, dentre outros, a Rede Globo (e o conglomerado midiático mainstream) e o PSDB, quando Dilma Rousseff se reelegeu. Se sabiam ou não o que estavam fazendo, a reponsabilidade política recai muito em seus ombros.

A mais pura verdade é que a “Casa Grande surta quando a Senzala aprende a ler”. Eles nunca engoliram, mesmo que seus bolsos tivessem engordado significativamente, que estavam sendo governados por um torneiro mecânico. Que eram governados por uma mulher que lutou contra a ditadura patrocinada por eles.

O problema central é que a ideologia, a mentalidade colonial da Casa Grande, não está só na elite. Está na classe média e em boa parte das classes mais baixas na estrondosa pirâmide social da desigualdade brasileira. Hegemonia! Apesar do “grande número” estar subjugado na estrutura social, sem mobilidade econômica nenhuma, ele adere ao pensamento do dominante, acreditando fazer parte dessa classe. Ledo engano.

Em suma, o problema segue sendo a Educação. A educação cidadã, a formação para a democracia, pedra basilar de uma sociedade que se queira democrática. Paulo Freire sabia disso. Darcy Ribeiro estampou esse mantra na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Gramsci deu o tom muito antes.

Mas, ao olhar para os trabalhos de base e a política e práxis da formação da CUT e do PT, o desalento é invernal. Abandono, burocratismo. As igrejas neopentecostais (que nada tem de crístico) ganharam a batalha das ideias, retomando os velhos dogmas conservadores acrescidos do fundamentalismo.

Embora tudo seja hoje, agora, nestes trópicos, não há como descuidar deste diagnóstico que não mudará apenas com um, dois ou três vitórias eleitorais presidenciais da esquerda. Fica a reflexão.

Mas a reflexão de fundo não deve nos deixar descuidar da tarefa imediata, urgente, imperativa. Que não é somente eleger Lula, mas eleger a Democracia. Que não é apenas eleger Lula, mas afastar do mais alto cargo da República o fascismo, a violência, o algoz do país e da constituição federal. Lula encarna hoje a nossa democracia e constituição federal.

Quem não soube ver antes que veja agora. Que tenhamos a energia necessária para sermos as pernas, os braços, a voz, a mente o coração da Democracia. Que a maioria da população saiba escolher pelo suspiro flamejante da Democracia. Alvejada, humilhada, conspurcada, estuprada à luz do dia e da noite.

Civilização ou barbárie? Democracia ou fascismo? A este ponto chegamos. Que nos sirva de lição e de força para seguir lutando.

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