O Brasil completa nesta quarta-feira (17) três semanas com o ritmo de registro de mortes por Covid-19 entrando em estabilização. Quando se considera uma média semanal de óbitos (para descontar os atrasos de notificação dos finais de semana), desde o dia 26 de maio o país está em um patamar médio de 985 vítimas por dia, sem oscilar mais que 6% desse valor.
Nos gráficos epidemiológicos, o número de casos e mortes assume aos poucos a forma de platô — o que, em outros países, representou o pico da ocorrência de Covid-19. Essa realidade, no entanto, esconde diferenças locais. Enquanto os estados onde a pandemia chegou antes, Rio de Janeiro e São Paulo, puxam a tendência de estabilização, outros, como Paraná e Paraíba assistem a epidemia começando a ganhar impulso. O retrocesso de um lado anula o avanço de outro na média nacional.
O comportamento desordenado do coronavírus Brasil afora deve-se às proporções continentais do país.
“O Brasil é um país de dimensões continentais, ondas de picos ocorrem alternadamente. Na Paraíba tem um pico em determinado período, em alguns estados a curva já está decrescente. Mas, no Estado, o governo conseguiu controlar o colapso da rede pública de saúde através de uma série de medidas, tomadas de forma rápida, como o isolamento social, testagem. Por isso temos resultados positivos, como o fato de termos o segundo menor percentual de leitos ocupados, menor taxa de letalidade no Nordeste”, disse ao ParlamentoPB o secretário de Saúde, Geraldo Medeiros.
Segundo ele, a capital paraibana começa a entrar em decréscimo de casos e mortes nos próximos dias, enquanto outras cidades, como Campina Grande, Guarabira e Patos tendem a subir. “Vamos ter muitos casos ainda, principalmente no interior. Cada município tem o seu pico em tempos diferentes. Quem aderiu ao isolamento logo, testou a população, terá redução, e quem demorou para implementar medidas para conter o vírus terá mais casos e mortes nos próximos dias”, afirmou o secretário Geraldo Medeiros.
O Brasil confirmou nesta terça-feira (16) 1.338 novos óbitos por coronavírus, chegando ao total de 45.456. Foi o segundo maior número de mortes em 24 horas desde o início da pandemia, há três meses, atrás apenas do registrado no último dia 4 (1.470 ocorrências). O levantamento é assinado pelo consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, comprometido em fazer uma contagem independente das estatísticas da epidemia.
O estado do Rio chega até a insinuar uma queda um pouco mais clara no número de mortes por dia na última quinzena, passando de aproximadamente 200 para 140. São Paulo, no entanto, não conseguiu rebaixar este patamar da mesma forma.
Grupos de estudo e modelagem da Covid-19 avaliam que há vários focos de epidemia no território nacional. No eixo Rio-São Paulo, por exemplo, a maior preocupação é o registro de casos nos municípios do interior, onde há baixa capacidade de testagem e infraestrutura hospitalar precária para o atendimento a pacientes. Já a disparada na curva de óbitos dos estados do Sul seria explicada pelo fato de que a região foi a última a ser acometida pelo coronavírus.
— Em um país de nosso tamanho, cada cidade e estado reagirão de maneira única. Devemos ter diretrizes nacionais para uso de testes, mas as medidas de contenção e o relaxamento (para circulação de pessoas) serão decididas regionalmente — explica a microbiologista Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Outro desafio, segundo Pasternak, é a subnotificação. Em Minas Gerais, por exemplo, houve um aumento desproporcional no diagnóstico de síndrome respiratória aguda grave e um registro tímido de Covid-19 — ambas as doenças têm sintomas semelhantes.
As medidas tomadas recentemente por governantes, como a reabertura de shoppings no Rio e em São Paulo, podem acentuar a quantidade de contaminações e, em algumas semanas, dado o tempo necessário para a incubação do vírus, também o número de óbitos.
ParlamentoPB com o Globo