Foi com o argumento de que o sigilo dos dados dos correntistas “é crucial e sagrado” que a presidente Dilma Rousseff determinou ao ministro Guido Mantega (Fazenda) que chamasse os dirigentes do Banco do Brasil e do fundo de pensão Previ com a ordem para que dessem fim às futricas, fofocas e guerra de dossiês registrada do início do ano para cá.
Nas conversas que teve com Mantega sobre a crise no BB e na Previ, na semana passada, a presidente lembrou ao ministro que a credibilidade das duas instituições está acima dos dirigentes, das alas partidárias e dos grupos. Disse ainda que estabeleceria ela mesma um prazo para o cessar-fogo, sob pena de demitir todo mundo. Não disse qual é o prazo.
De acordo com informações de bastidores, Dilma afirmou que tinha admiração pela competência tanto de Aldemir Bendine (BB) como de Ricardo Flores (Previ), porque as gestões de ambos mereciam aplausos. Tanto que o BB hoje é a maior instituição financeira do País, tendo se expandido ainda para a Argentina, Estados Unidos e África. E a Previ é o maior fundo de pensão da América Latina, com ativos de mais de R$ 150 bilhões.
Quanto a Ricardo Oliveira, vice-presidente de Governo do Banco do Brasil, a situação é diferente. Com este, Dilma já não tem nenhuma paciência. Petistas que apoiam a manutenção de Flores fizeram chegar à presidente a informação de que Oliveira seria a fonte de boa parte das fofocas. “O Ricardo Oliveira está acabado”, revelou ao Estado um interlocutor da presidente.
Ele corre o risco de ter o mesmo destino de Allan Toledo, ex-vice-presidente de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do BB. No fim do ano passado, o presidente do Conselho de Administração do banco, Nelson Barbosa, viu-se obrigado a demitir Toledo, por ordem de Mantega. Ele teria se aliado a Flores, na Previ, e estaria trabalhando para derrubar Bendine.
A briga ficou tão grave nos últimos dias que circulou por Brasília um dossiê com a quebra do sigilo bancário de Toledo. Insinuava-se, no papelório, que ele teria recebido cerca de R$ 1 milhão, em cinco parcelas. No mesmo dossiê afirmava-se que ele havia liberado um empréstimo para o grupo Marfrig. Toledo disse que o dinheiro vinha da venda de um imóvel e prometeu que vai processar todo mundo.
A divulgação do dossiê levou o Ministério da Fazenda a mandar o BB abrir sindicância para apurar a quebra de dados bancários de Toledo. Dependendo que for apurado, a demissão de diretores pode começar antes de maio, quando parte do Conselho de Administração da Previ será renovada. O governo já decidiu reconduzir Robson Rocha, presidente do conselho, que ocupa uma das vagas do BB. Ele é filiado ao PT.
Reação. A circulação de dossiês e o aumento das fofocas levaram políticos ligados ao banco e à Previ a agirem de forma cautelosa. Um deles foi o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), funcionário de carreira do BB, influente na escolha dos diretores da instituição. “Deus me livre. Só quero distância dessa questão. Aos que me procuraram para indagar se eu poderia conversar com um ou outro, eu respondi: “Me inclua fora dessa”. Essa situação não pode continuar. Eles vão ter de parar”, reagiu Berzoini.
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi testemunha do desespero de Mantega com a situação das duas instituições. Ele contou ao Estado que ouviu o ministro argumentar que não entendia a razão objetiva para a crise. “É uma disputa entre grupos. E chegou a esse ponto. Uma pena, porque as duas gestões são muito boas”, disse Mantega a Delcídio, depois de receber a ordem da presidente de que teria de assumir o controle do BB e da Previ. Se necessário, com a demissão dos brigões.
Para o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), que já ocupou cargos de direção no BB, a atual crise é a mais grave da história recente da instituição. “Nos governos de José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso conseguimos impedir o aparelhamento do BB e as disputas fratricidas. Agora, o que se vê é o banco envolvido numa disputa que pode comprometer seriamente o futuro da instituição”, disse.