“…já fui novo, sim; de novo, não…
Ser novo pra mim é algo velho.
…
Quero viver o que é novo: sim
O que eu quero, assim,
É ser velho.”
Carlos Rennó /Lokua Kanza
Esse texto é sobre dietas, sardinhas em conserva e beijos suados nos carnavais de Olinda.
Vez por outra eu escuto esse tipo de “elogio”:
– você é um coroa muito conservado!
Agradeço, me imaginando dentro de uma lata de sardinhas ou de um pote de palmitos, mas com uma vontade muito grande de soltar um impropério qualquer.
– nossa, você tem uma cabeça muito jovem pra sua idade!
Sei.
Ter a mente aberta, divertir-se, gostar de sexo… Só para você, não é, meu jovem?
Dizer que uma pessoa velha tem a mente jovem, é igual a dizer que o cara é um negro de alma branca, ou que uma mulher é “do car…”. Essas coisas, que deixam claro quem é melhor: jovem, branco, homem.
– e aí, qual é o seu segredo?
É quando preciso explicar como se dá o tal “processo de conservação”.
Meu segredo é muito simples. Toda revista, todo programa narrado por Sérgio Chapelin fala disso: alimentação, atividade física e frutas exóticas, ricas em coisas antioxidantes, que são cultivadas por freiras reclusas num convento lá em Tegucigalpa. #SQN
A vida inteira, meu amigo, comi muita música boa acompanhada de cerveja, caipirinhas, gin tônics e amigos. Com esses, degustei toneladas de conversa que não se joga fora. Dei risadas de doer no estômago e baixar o índice glicêmico quase a zero!
Fumei poesia até faltar ar nos pulmões.
Dublei meus cantores favoritos na frente do espelho, sempre procurando o melhor ângulo dos músculos. Me joguei nas boates, dançando feito louco de whisky, como se não houvesse “de manhã”.
Varei madrugadas em nome do tesão. Fosse por uma pessoa ou por um livro que não consegui parar de ler.
Pulei nos carnavais de Olinda todos os beijos de boca e suor que couberam nas fantasias de extra terrestres, papangus e beduínos.
Gastei tardes inteiras tomando vinho na cozinha, com meu amor.
Vinho, comidinha gostosa, a pessoa que você ama. Pesquisas apontam que essa combinação mantém a gente longe das drogas dos shopping centers e, de quebra, rejuvenesce 500 anos. Sem contar na quantidade boa de histórias para compartilhar por aqui ou quando a mesa estiver rodeada de amigos (passa logo, pandemia!), o que potencializa esse efeito à quase imortalidade. Pelo menos da alma, que a essa altura é tudo, menos pequena.
Quando o prato é amor, rôo até o osso.
Só não tenho apetite prá amor insosso (a rima não foi intencional).
Pois é, meu amigo. Meu segredo é a gula!
A vida inteira devorei avidamente música, livro, cinema, poesia, amores, vinho e alegria. Tudo em grandes quantidades, que eu não gosto de coisa pouca.
E tenho seguido essa dieta até agora.
Deve ser por isso que você me acha conservado.
Eu, só me acho divertido.