Os partidos que dão suporte a Lula na Câmara reuniram-se nesta terça (26). Discutiram a reforma política.
Deu-se o previsível: bateram-se os últimos pregos no caixão da proposta que instituía o voto em lista fechada.
Junto com a novidade que privaria o eleitor de escolher diretamente os candidatos a deputado e a vereador, foi ao esquife o financiamento público das campanhas.
Premidos pelos sócios minoritários do consórcio lulista –PDT, PTB, PSB, PP, PR, PL, PV, PMN, etc—os líderes das megalegendas –PMDB e PT—renderam-se às evidencias.
Foi à cova também o requerimento que se pretendia votar nesta quarta (27), para conferir o caráter de “urgência” à tramitação da reforma política.
Alheio à atmosfera de velório, Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), que fora escalado para dar redação final ao projeto de reforma, protocolou na Mesa o seu texto.
Seguiu-se no plenário uma cena inusitada: endossado pelo governo Lula, o texto de Ibsen é defendido nos microfones apenas pela oposição.
Só os líderes oposicionistas –Ronaldo Caiado (DEM), José Aníbal (PSDB), Fernando Coruja (PPS) e Ivan Valente (PSOL)— se animam a cobrar a votação da reforma.
“Podemos perder na votação do painel”, disse Caiado. “O que não é admissível é resolver tudo no tapetão”.
“Fomos convidados para mais uma farsa”, ecoou Aníbal. “Ao primeiro ranger de dentes, o governo, que nunca teve compromisso com nenhuma reforma, refluiu”.
Ivan valente falou em “conluio” pela manutenção do “corrupto” sistema privado de financiamento das campanhas.
Mais do que um velório, o plenário da Câmara realiza nesse momento o enterro da reforma, que se resumia à lista e ao chamamento à Viúva.
Caiado anunciou que o DEM entra em obstrução. Antes de votar qualquer projeto ou medida provisória, exige explicações dos líderes do PMDB e do PT.
Encurralados pelos partidos médios e pequenos que gravitam ao redor do Planalto, Cândido Vacarezza (SP), do PT, e Henrique Eduardo Alves, do PMDB, fingem-se de mortos.
Não disseram em plenário palavra sobre o recuo. Antes, no encontro com os demais governistas, decidiram privilegiar a “unidade” do bloco governista em detrimento da reforma.
Para não dizerem que pararam de falar de flores, os governistas passaram a defender uma proposta de emenda constitucional de José Genoino.
Prevê uma Constituinte unicameral dedicada exclusivamente à reforma política. Coisa para 2011.
Os aliados não quiseram nem ouvir a alternativa que Henrique Fontana (PT-RS), líder de Lula na Câmara, arquitetara na véspera.
Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, como que lavou as mãos. Disse que não lhe cabe, de maneira “autônoma”, dar curso à reforma.
Reafirmou que, se recebesse requerimento assinado pelos líderes, levaria a voto o pedido de “urgência”. Não vai receber, contudo.
PMDB e PT decidiram não assinar o requerimento. Acenderam as velas que queimaram no enterro de um projeto supostamente defendido pelo governo que representam.
Manusenado panos quentes, Temer disse que o importante é não interromper o debate sobre a reformulação "estrutural" do sistema político.
Ainda que seja para não decidir nada. Algo que, no dizer de Temer, também é "uma forma de decisão". De resto, o presidente da Câmara disse que arregaçará as mangas por uma "minuciosa" atualização da lei eleitoral.
Pouco depois, Temer encerrou a sessão. Havia duas medidas provisórias na pauta. Nada foi votado. A sessão foi integralmente dedicada ao enterro da reforma política.