Comunicamos, a quem interessar possa, que a boneca saiu da caixa. Sim, senhores, ela saiu da casinha, da cozinha. Monga saiu da jaula de calcinha Exocet, pilotando um avião. Ficou mais divertida.
Ex-frequentadora dos consultórios médicos, onde era palestrante de sala de espera, especialista em doenças vencidas, pólipos, miomas, eritemas, cobreiros e gravidezes atômicas… eu quis dizer atópicas. Está curada: Hormonal, imprevisível, tarja preta, dependente de lítio e sujeita aos fluxos do corpo. Bipolar. Lunática de dia, insone na madrugada.
Judia, macumbeira, espírita, filha de Maria e ainda assim, rapariga de Chico, vingativa, espiã de celulares e carteiras, torturadora de filhos, mártir arrependida, fingidora de orgasmos e dores de cabeça.
Agora ela vem na versão poeta, cantora, pintora de sete, atriz de cinema mudo, dançarina de tango, escritora de linhas tortas.
Mágica prestidigitadora, truqueira do disfarce, rainha má de si mesma no “espelho, espelho meu, quem é mais bonita que eu”. As poções, as máscaras, os cremes, as tintas, as coisas que apertam, os sapatos. Domadora de pelos nas mais diversas geografias. Lutadora inglória contra a tragédia dos lipídeos, estrias, celulites, rugas, rasgos… coisas que sobem, que descem, que entram, que atravessam.
Continua proibida. De gozar, de ter dinheiro, de ter poder. De envelhecer. De ir sozinha pro bar. Mas não volta mais pra caixa, pra cozinha. Definitivamente assumida de que sempre foi bicho esquisito, fora da casinha.
Arremessada em caos oceânico, continua absolutamente incrível na arte de virar o jogo, reinventar a vida, transformar amargo em doce, curar ferida e disfarçar cicatriz, ela me pede que te passe esse comunicado:
A boneca saiu da caixa, queridos. E jogou fora o manual.
Regras, diretamente com ela.
E vai dar trabalho. Ela não é mais boneca. (Aliás, boneca o c…!)
É mulher.
E mulher não é autoexplicativa.