Após quase um ano dedicado à pesquisa acerca da reconstrução da identidade feminina pós-separação conjugal, pairam dúvidas e reflexões envoltas a um universo, de fato, difícil de ser decifrado. A mulher carrega consigo enigmas que até Freud desistiu de desvendá-los. Imaginemos então como tudo isso se processa durante um período de desenlace matrimonial…
Na maioria dos casos, a decisão de separar parte, sim, da mulher. Ao perceber que a relação não vai bem, sobretudo nas nuances amorosas, ela é menos relutante no momento de se manifestar. Puxa a velha e conhecida DR, feliz ou infelizmente, para o bem ou mal de todos.
Nada fácil, claro, por envolver transformações e rearranjos de várias ordens. São mudanças logísticas, emocionais, financeiras e familiares, entrelaçadas a filhos, costumes, rotinas e vidas que andavam juntas. “Como seguir sozinha?”, eis a pergunta pronunciada por inúmeras mulheres, imersas ainda à fase de transição entre conjugalidade e individuação.
Constata-se, realmente, uma gradual reconstrução identitária. A mulher despe-se da identidade conjugal e apodera-se de uma individual. Enquanto a primeira formou-se à base das relações constituídas entre o casal, além de suas interatividades, a segunda é muito mais própria, fruto de longo e doloroso processo de autoconhecimento e aprendizagens.
São muitos sonhos e desejos ressignificados, até chegar à fase da aceitação e acomodação de situações. Luto, culpa, medo, tristeza, alívio, solidão, libertação, alegria, esperança e autonomia constituem alguns dos sentimentos predominantes entre o universo feminino . A culpa, em especial, castigou-as sem tréguas.
Algumas conseguiram culpabilizar-se por tudo e todos. Acusam-se por desejar romper o laço conjugal, e também ao não desejar. Na culpa, o ser humano sente-se endividado, prisioneiro de si próprio e dos outros. Sem liberdade, não consegue seguir, assumir o seu eu e reconstruir-se internamente. Portanto, melhor seria se evitássemos esse sentimento, seja no término de um relacionamento ou em qualquer outra situação.
Com relação ao luto, trata-se de um estado compreensível e até necessário, diante da perda de alguém querido, ou ao menos que um dia o foi. Passa a ser preocupante quando transforma-se em melancolia, uma dor mais cronificada, capaz de trazer adoecimentos físicos e mentais. É importante viver o luto, sem queimar etapas, para que ele não surja posteriormente, de maneira ainda pior.
Enfim, entre dissabores e conflitos de várias naturezas, a mulher perpassa a fase da separação. Seria quase perfeito se, durante o matrimônio, a teia envolvendo o distanciamento afetivo guardasse certa simetria. Mas observou-se o contrário. Um quer, enquanto o outro nem tanto… Dificilmente, há um equilíbrio de quereres.
Essas assimetrias produzem dores latejantes, capazes de machucar igual doença crônica. Dói de forma diferente em cada ser, portanto, não há como homogeneizar e generalizar experiências. Basta apenas entender que o final de uma relação amorosa pode apresentar-se como espécie de morte em vida, por um já não existir na consciência do outro. E o “eu” conjugal nunca mais encontrar um lugar naquele casal, ou quem sabe um dia …