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Com ‘Aranha’, Wood defende a tese de que a cadela do fascismo está sempre no cio

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Representante chileno no Oscar de 2020, ‘Aranha’ (2019), de Andrés Wood narra as ações de um grupo terrorista de extrema-direita no Chile dos anos 70, segundo o ponto de vista de três de seus integrantes. Wood é um cineasta que carrega na sua obra forte teor político a exemplo de ‘Machuca’ (2004), também ambientado no Chile de Allende, em 1973, e ‘Violeta foi para o céu’ (2011), cinebiografia da poetisa e cantora chilena Violeta Parra. Numa coprodução Chile, Brasil e Argentina, o filme teve estreia nessa quinta, 23, em diversas salas de cinema do Brasil para, em breve, figurar nas plataformas com distribuição da Pandora Filmes.

‘Aranha’ (Araña) chega num momento peculiar na história mundial com a ascensão ao poder, através do voto, de representantes extremistas da direita (Trump, nos EUA, Bolsonaro, no Brasil, por exemplo), no entanto, frisamos, através de meios nada democráticos, como a disseminação em massa de perfis falsos e fake news.  O que marca a ideologia da extrema direita no Brasil e no mundo é o descrédito nas instituições e na política convencional, o nacionalismo exacerbado, a xenofobia, o racismo e o antimarxismo ferrenho.

No filme de Wood, os três protagonistas jovens (Inés, Gerardo e Justo) são militantes da organização Patria y Liberdad de extrema-direita e aferrada opositora ao presidente recém-eleito, o socialista Salvador Allende, que governou o Chile entre 1970 e 1973 quando foi deposto (e assassinado) por uma junta militar liderada por Augusto Pinochet. O enredo tem como pano de fundo o atribulado contexto político do país desse período e o Chile dos anos 2010 com os mesmos personagens protagonistas, todos com excelentes atuações. Wood constrói sua narrativa, portanto, alternando intensamente essas duas épocas.

Conhecemos primeiro a bem-sucedida empresária Inés (Mercedes Morán) cuja arrogância é demonstrada na cena inicial ao descumprir a ordem de um professor. Em seguida, Gerardo (Marcelo Alonso), um transeunte que persegue de carro um assaltante até esmaga-lo contra uma parede, fazendo o uso da justiça com as próprias mãos. No seu carro, são encontradas armas ilegais.  A partir daí, saberemos que Gerardo estava dado como desaparecido desde 1973 pela execução de um militar aliado de Allende. 

A conexão entre os personagens e suas ações serão explicitadas a partir de incontáveis flashsbacks ao longo da narrativa. Inés jovem (Maria Valverde) nos é apresentada numa sessão de fotos e vídeo para a divulgação de um concurso de Miss Universitária. Ela namora o irrequieto, boçal e violento Justo (Gabriel Urzúa). Ambos vão arregimentar Gerardo (Pedro Fontaine), o auxiliar de fotógrafo, expulso das forças armadas por insubordinação, que demonstra ali mesmo sua truculência. Logo, Inés, Gerardo e Justo estão envolvidos num intenso e perigoso triângulo amoroso. 

Embora ‘Aranha’ (o título vem da imagem estilizada de uma aranha que identifica o grupo terrorista), curiosamente, tenha sido criado antes que o mundo conhecesse as nefastas figuras de Trump e Bolsonaro, os roteiristas Guillermo Calderón e Andrés Wood reconhecem que esse nacionalismo já estava no ar. Sabemos que o nazismo, por exemplo, engrossou seu caldo no contexto de uma Alemanha prenha de problemas sociais e políticos. A República de Weimar, uma das mais democráticas do mundo era constantemente ameaçada pela crise econômica, com uma inflação estratosférica, golpes militares, movimentos separatistas, atentados nacionalistas e levantes comunistas. 

As ações políticas e os jogos de influência dos personagens maduros (Inês, Gerardo e Justo) demonstram que o ovo da serpente fascista está na chocadeira pronto para romper sua frágil casca. Quatro décadas depois, Inês e Justo continuam casados. O triângulo amoroso deu uma trégua com a fuga de Gerardo para a Argentina. Inês é uma influente empresária e ocupa seu tempo com uma fundação que abre escolas para a população pobre. Justo é um advogado renomado e vive afogador em álcool e rivotril. Tudo que Inês quer é manter Gerardo numa clínica psiquiátrica para que não seja mandado a julgamento por atos terroristas, o que pode ameaçar o status quo da advogada e seu marido.

Com ‘Aranha’ Andrés Wood atesta sua exímia habilidade narrativa, ao estruturar seu enredo em idas e vindas na linha do tempo alternado sua história em fragmentos das duas épocas, criando assim um suspense ao esconder e revelar informações cruciais para o engajamento do espectador no que narra.  É pertinente e plausível essa quase obsessão do diretor pela ditadura do seu país. Em entrevista para a revista Variety, explicou: “O que foi plantando naquele período continua explicando muito do que é o país agora. O ator Caio Blat faz Antonio, líder do grupo terrorista. A trilha sonora é do brasileiro Antonio Pinto, o mesmo autor da trilha de ‘Central do Brasil’. Em tempo: o grupo Patria y Liberdad é real. Qualquer semelhança com o Brasil de hoje, não é mera coincidência.

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