A vida pode ser comparada a uma colcha de retalhos, tecida aos poucos, minuciosamente, sem pressa. E são os pequenos pedaços de tecidos que, juntos, dão forma e beleza à arte final.
Tal qual uma colcha de retalhos, a nossa existência também é feita de pequenos tecidos, pequenos gestos. São os fragmentos do dia-a-dia, às vezes não tão valorizados, que formam o todo do nosso ser. Somos o resultado de muitas experiências, aparentemente insignificantes, impregnadas de um valor imensurável.
Infelizmente, nossa cultura não nos ensina o valor das pequenas coisas. Nossos olhos e nossos desejos estão sempre voltados para as vitrines, e nunca para o coração. Contudo, a essência da nossa vida é feita dos pequenos detalhes que estão à nossa volta, como o olhar puro das crianças, o carinho de pessoas queridas, a solidariedade anônima de muitos e a contemplação do belo escondido nas coisas simples ao nosso redor.
A verdade é que o fluxo da vida se dá no dia-a-dia. A grande beleza da existência nos é revelada a cada momento. Existe um sagrado que vivifica o cotidiano de todos nós. Estamos cercados por pequenos milagres que se encontram em toda parte — em casa, nas ruas, na natureza e, principalmente, onde nunca enxergamos: em nós mesmos. É por isso que a vida é uma experiência espiritual, sagrada.
Nossos olhos estão enfermos. Não conseguimos mais enxergar a beleza do que realmente importa, porque somos possuídos pelo insaciável. Nada nos basta! Somos consumidos por uma profunda angústia em nossa alma. A angústia nos impede de ver que o caminho para a felicidade não é tão inacessível. É impossível perceber o valor das pequenas coisas, dos pequenos gestos, das coisas simples, enquanto nos falta a paz e a quietude. A felicidade existe e, assim como uma colcha de retalhos, é tecida a partir dos pequenos detalhes do dia-a-dia.
A vida é tanto sagrada quanto bela. Bela e simples. A sua beleza consiste paradoxalmente na sua simplicidade. São os pequenos gestos que revelam nossa grandeza de espírito e a nossa consciência de Deus — o único que realmente é grande, mas que se revela também nas pequenas coisas do dia-a-dia e nos detalhes da Sua criação.