Faz pouco mais de dois anos que a história do Brasil parece andar para trás.
As polêmicas que rendem manchetes em todo Brasil atualmente são as mesmas de décadas passadas.
É o caso da abordagem feita “carinhosamente” por um fã ao cantor e compositor Chico César.
Depois que o artista publicou um vídeo com uma canção de amor (Pisa menos), surgiu um comentário que aconselhava o paraibano a deixar de lado os temas político-ideológicos, como se a música e a política não pudessem estar juntas.
Quando era mais jovem, desenvolvi ojeriza a um grupo musical da época, o Oasis, porque um dos integrantes havia reclamado da politização do U2, minha banda favorita. Dizia que a finalidade da arte seria divertir e não despertar reflexões.
A discussão sobre esse tema é, obviamente, muito mais antiga que os anos 2000 e se confunde com a própria história da arte. Para que ela serve? Para entreter? agradar a alma? estimular questionamentos? Ou todas as alternativas juntas?
A arte serve para o que o apreciador quiser. Concordo com a resposta de Chico ao fã, apesar de considerá-la ríspida. No cerne, porém, é irretocável. O artista tem toda a liberdade de moldar sua produção como bem entender. É a famosa liberdade de expressão. Se o que lhe desperta o interesse ou causa revolta é o descontentamento político, deve ser extravasado. Chico César não é o único. O paraibano Geraldo Vandré imortalizou “Pra não dizer que não falei das flores”, hino de 10 entre 10 manifestações políticas no Brasil desde 1968. Outro Chico, o Buarque, também se notabilizou pela excelência em inserir em sua vasta e premiada obra as questões sociais do Brasil.
Não gosta? Não ouça.
Há inúmeros outros casos em que o teor da produção artística não é explicitamente político, mas o que dizer do nosso samba ou do forró? A essência está na valorização de nossa cultura, na narrativa do cotidiano das dificuldades dos morros cariocas ou do sertão do Brasil. A política, caro fã de Chico César, está em tudo. Até mesmo no que você não percebe.
Quando Chico pede “Pisa menos”, está sendo também político. De acordo com a definição de Aristóteles, a finalidade da política era a “felicidade humana”. Sem “pisadas” da amada, Chico será mais feliz.
Pise menos. Ouça mais música. Politize em sentido amplo sua vida. O problema do país não está na política ou na arte politizada. O que nos mata é a politicagem e as conveniências que regem o jogo do poder.