Muita gente conhece apenas minha faceta de médico e pesquisador, mas também sou adepto das atividades físicas. Escolhi ser triatleta não só porque o triatlo é um esporte apaixonante, que envolve três modalidades esportivas (natação, ciclismo e corrida) em que todas têm grande importância para prevenir a doença cardiovascular (maior causa de morte no mundo), mas também porque o triatlo é para mim um estilo de vida.
Posso ser um exemplo para os meus pacientes e mostrar que é possível, mesmo com tantos compromissos, realizar uma atividade física e, com isso, conseguir convencê-los sobre a importância da atividade física como forma de prevenir e de controlar a doença cardiovascular.
Acordo todos os dias às 4h e preparo meu café da manhã, privilegiando as frutas da época. Em seguida, sigo uma planilha de treinamento. Fico muito feliz ao ouvir depoimentos de pacientes e colegas que, muitas vezes, dizem se inspirar em mim e iniciam a prática de alguma atividade física.
Antes de sair caminhando por aí, porém, é importante buscar avaliação por um profissional especializado para prescrição de atividades físicas. Isso vale para pessoas saudáveis, mas especialmente grupos específicos, como pacientes com problemas cardiovasculares. Abaixo, aponto sete benefícios da caminhada para a saúde do coração.
Melhora o condicionamento vascular
A movimentação dos membros inferiores por meio das caminhadas aumenta o fluxo da circulação do sangue e melhora o retorno do sangue venoso ao coração. Isso ocorre devido ao maior estímulo dos músculos, sobretudo da panturrilha, a popular “batata da perna”, que atua como um verdadeiro coração das pernas, ajudando a transportar o sangue e os nutrientes de volta ao coração. Por promover uma melhora na circulação, a corrida e a caminhada contribuem para fortalecer a parede dos vasos sanguíneos, impedindo a obstrução de veias e artérias (responsável por desencadear o aparecimento de diversas doenças vasculares).
Reduz a pressão arterial
Está comprovado: a prática regular de exercícios físicos melhora o funcionamento de diversos sistemas do corpo. Quem faz exercícios físicos de forma rotineira se previne contra diversos problemas de saúde, tais como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), popularmente conhecida como pressão alta. A prática regular de exercícios físicos pode ser tão eficaz na redução de riscos de infarto quanto um medicamento, no entanto, se a pessoa já faz uso de algum remédio, não deve abandonar o tratamento. Nas pessoas com pressão alta, a atividade física ajuda a reduzir a pressão arterial e a dose de medicamento, chegando mesmo a eliminar a necessidade de usá-los, além de controlar outros fatores de risco normalmente associados à hipertensão, como obesidade, colesterol, diabetes e estresse.
Regula os níveis de colesterol no corpo
Por diminuir os níveis de “colesterol ruim” (LDL) e aumentar os de “colesterol bom” (HDL), a caminhada é essencial para o controle do colesterol no sangue. O exercício rotineiro estimula, por exemplo, a produção da lipase, uma enzima que barra o acúmulo de gorduras nas paredes das artérias. Com isso, os riscos de doenças do sistema circulatório, infarto e derrame cerebral são reduzidos. Alguns estudos têm demonstrado que um aumento nos níveis de HDL (da ordem de 1 mg/dl) produz redução de 2%-3% na incidência de entupimento das artérias do coração. Também foi demonstrado que níveis elevados de HDL, o “colesterol bom”, podem impedir a progressão da placa de gordura, promovendo, aliás, sua regressão.
Protege contra derrames e infartos
O comportamento sedentário está associado ao risco aumentado de ser acometido por alguma doença, dentre elas infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC). A prática de atividades físicas previne o AVC ao diminuir os fatores de risco que podem desencadear a doença. Se adotada regularmente, a prática de exercícios físicos melhora o controle do diabetes e da hipertensão arterial e controla os níveis elevados de triglicérides; também promove a elevação do “colesterol bom” (HDL). Aliás, a prática da atividade física, nos últimos anos, foi associada à menor taxa das principais doenças cardíacas em até um terço, ao se corrigir alguns fatores de risco como excesso de gorduras e vida sedentária. O bom controle e a regularidade dos hábitos saudáveis diminuem a chance de infartos e de derrames.
Relaxa e combate o estresse
O estresse contínuo pode elevar os batimentos cardíacos e a pressão arterial; esse quadro, muitas vezes, pode culminar em um ataque cardíaco e levar à morte. Além de proporcionar sensação de bem-estar, a caminhada pode melhorar a autoestima, reduzir sintomas depressivos e ansiosos e trazer benefícios ao organismo como um todo. Quando uma pessoa caminha, há maior oxigenação do sangue, e esse fornecimento extra de oxigênio provoca sensação de serenidade (algo que pode durar até depois da atividade física). Além disso, durante o esforço físico, o corpo produz até cinco vezes mais endorfina do que em repouso. Tal substância, aliás, é conhecida como o “hormônio da felicidade”, pois contribui diretamente para a manutenção do bom humor. A endorfina previne estados depressivos associados a situações de maior estresse e contribui para amenizar sintomas relacionados à ansiedade
Ajuda a emagrecer e a manter o peso em equilíbrio
É sabido que, durante a prática de exercício físico, o fluxo de sangue aumenta, o que leva os vasos sanguíneos a se expandirem, diminuindo a pressão. Outra vantagem é que a caminhada faz as válvulas do coração trabalharem mais. Resultado: há melhora da circulação de hemoglobina e da oxigenação do corpo. A caminhada rápida pode queimar entre 300 e 400 calorias em uma hora, mas é necessário que a atividade física seja praticada de forma regular para que os resultados se mantenham. A caminhada deve ser diária e é necessário manter o ritmo, o passo tem que ser de 3 km/h. De uma maneira geral, a caminhada é uma atividade física simples, fácil e reduz os fatores de risco para a doença cardiovascular, tais como: melhora do controle do peso, diminuição dos níveis de açúcar do sangue, redução do colesterol e da pressão arterial, como já citado.
Reduz o risco de mortalidade cardiovascular
As doenças cardiovasculares fazem parte de um grupo chamado de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e representam, atualmente, uma ameaça à saúde, sendo alvo constante das políticas de saúde pública no mundo todo, devido às morbidades associadas. Causam redução significativa da produtividade, incapacidades, efeitos adversos na qualidade de vida e custos materiais diretos aos pacientes e familiares, além de um importante impacto financeiro sobre o sistema de saúde. Os programas de exercícios físicos representam uma importante estratégia na prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares. A prática regular de exercícios pode reduzir, em até 60%, o risco de mortalidade cardiovascular. Um guia do serviço de saúde pública da Inglaterra, com o objetivo de evitar o sedentarismo, estimula britânicos a andar pelo menos 10 minutos por dia. A diretriz tem por base estudos que apontam que mesmo essa pequena quantidade já é capaz de reduzir o risco de morte precoce por doenças cardiovasculares em 15%.