Avião da Voepass cai em Vinhedo e 61 pessoas morrem

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Um avião com 61 pessoas a bordo caiu em uma área residencial de Vinhedo, no interior de São Paulo no início da tarde desta sexta (9), segundo a Defesa Civil. De acordo com a empresa Voepass, antiga Passaredo, ninguém sobreviveu ao acidente da aeronave de modelo ATR 72-500.

O desastre é o mais letal do país desde 2007, quando um acidente com o voo 3504 da TAM nos arredores do aeroporto de Congonhas deixou 199 mortos, e um dos dez piores já registrados no Brasil.

O avião, que viajava de Cascavel (PR) para Guarulhos (Grande São Paulo), desceu em queda livre, girando, até atingir a área de uma casa no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela. A Voepass apontou inicialmente que o voo 2283 tinha 58 passageiros e 4 tripulantes a bordo e depois atualizou o número para 57 passageiros.

Segundo o Corpo de Bombeiros, várias equipes foram mobilizadas para atender a ocorrência. Moradores que residem no entorno relataram à Folha cenas de terror. A aeronave emitiu um barulho “terrível durante a queda”, disseram. Um jovem que ajudou a resgatar dois idosos que vivem na casa onde a aeronave caiu disse que a cena foi assustadora.

O avião, de porte médio, deveria chegar às 13h54 em Guarulhos e perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto, segundo o site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo. A aeronave começou a perder altitude às 13h20.

Segundo o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), da Força Aérea Brasileira (FAB), o avião deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo às 13h21. O piloto não teria declarado emergência ou reportado estar sob condições meteorológicas adversas. O órgão informou que o voo ocorreu dentro da normalidade até as 13h20 e, às 13h22 um minuto após deixar de responder, houve a perda de contato com o radar.

Entre as vítimas, segundo lista divulgada pela Voepass, estavam as médicas Arianne Albuquerque Estevan Risso e Mariana Comiran Belim, ambas residentes do Hospital do Câncer de Cascavel. “Médicas humanas, que atendiam todos os pacientes com muita dedicação, carinho e respeito”, disse, em nota, o hospital. “Era muito nítido o amor que ambas tinham pela profissão.”

A tragédia também atingiu quem acompanhava os passageiros que embarcaram em Cascavel ou esperava por eles em Guarulhos.

A administração do aeroporto de Cascavel informou que “uma operação padrão de emergência regida pela equipe do aeroporto está em curso para entrar em contato com as famílias de possíveis vítimas.” Já a Voepass disponibilizou o número de telefone 0800 9419712, disponível 24h, para informações a familiares e colaboradores.

Ainda, um grupo de passageiros que não conseguiu embarcar no voo e ficou em Cascavel acabou escapando da tragédia. “Eu iria embarcar, o problema foi que cheguei em cima do voo. Eu pelejei pra ele me botar dentro do voo, ‘Me ajeita, eu tenho passagem comprada’, mas ele falou que poderia remarcar a passagem”, disse à Folha José Felipe Lima, 21. Depois de saber do acidente, ele, que discutiu com um atendente, agradeceu a Deus. “Pedi desculpa pela minha atitude, abracei ele [o atendente da companhia].”

Os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Ratinho Junior (PSD), do Paraná, interromperam a participação em uma agenda do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) em Vitória (ES), e foram para Vinhedo.

O acidente gerou repercussão na imprensa internacional e de diversos políticos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu um minuto de silêncio durante um pronunciamento em Santa Catarina. O mandatário estava no estado para inauguração de uma obra em Florianópolis e a entrega de um navio de guerra em Itajaí. “Parece que todos morreram. Queria pedir um minuto de silencio às vítimas”, afirmou o presidente na abertura de seu discurso em Itajaí.

A Superintendência da Polícia Técnico-Científica e as polícias Civil e Militar também estão mobilizadas. Equipes do Instituto Médico Legal (IML) e os responsáveis pelo recolhimento de corpos também foram encaminhadas para reforço nos trabalhos. Equipes do Hospital das Clínicas da Unicamp e do Hospital Estadual de Sumaré também se prepararam para receber eventuais pacientes.

Todos os corpos serão levados para o IML (Instituto Médico-Legal) de São Paulo, pela avaliação de que a unidade da capital tem mais recursos para fazer a identificação das vítimas.

Após fazer um sobrevoo no local, o comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Cássio Araújo de Freitas, afirmou que foi instalado posto de comando em Vinhedo, com integrantes de diferentes organizações, que deve ser mantido por alguns dias.

“Nós acabamos de sobrevoar a aeronave e ela está destruída”, afirmou Freitas.

Já o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira, disse no meio da tarde que já havia encaminhado agentes ao local. “Investigadores do Cenipa e do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), órgão regional do Centro, localizados em São Paulo, já estão a caminho para realizar a Ação Inicial da ocorrência.”

O Centro informou que recuperou a caixa-preta. A unidade de São Paulo disse ter conseguido encontrar os gravadores, nas siglas em inglês, CVR, o cockpit voice recorder, e o FDR, flight data recorder. O primeiro grava vozes da cabine e o outro, dados do voo como altitude, meteorologia e velocidade.

A Voepass disse que ainda não tem informações sobre a causa do acidente. Afirmou, ainda, que tudo o que tem circulado nas redes sociais a respeito do acidente é especulação, de acordo com o CEO da companhia aérea, Eduardo Busch. O diretor de operações da Voepass, Marcel Moura, diz que até o momento nenhuma hipótese foi descartada, entre elas a de que as hélices do avião teriam congelado.

A região tinha alertas para a formação de gelo severo no nível em que a aeronave estava no momento em que perdeu contato com o radar. Dados da Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica mostram avisos sobre o fenômeno a partir das 8h30 até ao menos as 20h20 desta sexta para as altitudes entre 12 mil e 21 mil pés. De acordo com informações do Flightradar24, a aeronave estava a 17 mil pés pouco antes do acidente.

Os porta-vozes da empresa reconheceram que houve pilotos que não se sentiram confortáveis em seguir suas escalas e voar nesta sexta-feira, após o acidente. Um desses casos aconteceu no início da tarde, em Ribeirão Preto, cidade no interior paulista que é sede da Voepass. A direção da companhia disse que acolheu a decisão dos profissionais, mas não soube, no entanto, quantificar a quantidade de voos afetados pelo acidente.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divulgou um comunicado lamentando o acidente e se solidarizando com com familiares e amigos das vítimas. “A Anac está monitorando a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa, bem como adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e dos tripulantes.”

A agência afirmou que a aeronave, fabricada em 2010, estava em condições regulares, e dados apontam que a Voepass, com a quarta maior demanda do país, enfrente um pico de reclamações neste ano. Segundo relatório da Anac, a cada 100 mil passageiros da Voepass, 67,40 estão se queixando —uma alta em relação à taxa média de 2023, de 38,59.

Procurada no início da tarde, a prefeitura de Vinhedo afirmou que não se manifestaria no momento.

Nas redes sociais, usuários publicaram vídeos registrando o momento do acidente, com o avião já em queda vertical. Enquanto filmavam a queda, as pessoas lamentavam o desastre.

Em outros registros, as pessoas observam a fumaça que sobe de onde o avião teria caído. Uma moradora do bairro Capela registrou chamas da aeronave, que caiu em frente à casa dela.

 

Folha Online

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