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Arruda diz ter recebido dinheiro só uma vez

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O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), disse ontem que só recebeu dinheiro uma vez diretamente de Durval Barbosa, seu ex-secretário de Relações Institucionais –no vídeo já mostrado amplamente na mídia.

Recebeu outras contribuições de Durval, mas por meio de "outras pessoas". Arruda faz sempre questão de mencionar que os vídeos agora divulgados foram gravados quando ele ainda não era governador de Brasília. Ele considera tudo uma trama engendrada por seu adversário político local, Joaquim Roriz (PSC).

No último dia 21 de outubro, quando recebeu Durval portando uma mala com R$ 400 mil, disse não ter visto o dinheiro. Recusa-se a explicar o conteúdo do diálogo, gravado em áudio monitorada pela Polícia Federal.

A seguir, trechos da entrevista concedida por volta das 21h desta terça-feira.

FOLHA – Por que o sr. manteve Durval Barbosa em seu governo?
JOSÉ ROBERTO ARRUDA Esse cidadão durante oito anos foi presidente da Codeplan, a empresa de informática do governo Roriz. Os gastos ali eram da ordem de R$ 500 milhões por ano. Ele, como outras pessoas do governo Roriz, vieram me ajudar na campanha. Quando terminou a eleição ele desejava continuar na mesma posição. Na transição, já avisado que tinha problemas nessa área, mas, por outro lado, muito grato à ajuda que ele tinha me dado na campanha –ajuda política, inclusive, trouxe apoio partidários, de deputados, evangélicos, o diabo a quatro. Eu então…

FOLHA – Ele deu ajuda tanto política quanto financeira para sua campanha?
ARRUDA – Eu diria que mais política que financeira. Porque a financeira, ao que eu saiba, ele pode ter intermediado apoios empresariais. Mas não dele diretamente. Eu não controlava. Para mim, pessoalmente, ele deu o que aparece naquele vídeo que apareceu, que deve ser de dezembro de 2004 ou dezembro de 2005. Foi para as minhas campanhas sociais de final de ano que eu faço há dez anos. Virou piada, porque é panetone, mas no fundo é verdade mesmo. Eu entrego panetone nas creches, nos asilos, tudo isso. Essa [doação em dinheiro de Durval] foi a única que eu recebi pessoalmente. Mas na campanha ele foi para o comitê. Ajudou muito.

FOLHA – Sim, mas aí o sr. o recolocou em seu governo?
ARRUDA – Terminada a eleição, e [ele] querendo ir para esse posto [Codeplan], eu achei que não deveria. Fui avisado inclusive pelo Ministério Público que ele não deveria ir, porque iria me dar problema. Não deixei ir para o mesmo cargo, mas coloquei-o num outro, mais burocrático, sem orçamento. E reduzi de R$ 500 milhões para R$ 130 milhões os gastos anuais com informática. Neste ano, vai chegar a R$ 209 milhões, mas ainda menos da metade do que no governo Roriz.

FOLHA – Sim, mas isso não resolveu o fato de Durval ter permanecido no seu governo…
ARRUDA – Mas isso foi gerando nele e nos grupos empresariais que foram prejudicados muita raiva. Mais tarde, uma aliança natural entre ele e o Roriz. Tanto que o porta-voz dele, hoje, são as pessoas do comitê do Roriz, [o deputado federal] Laerte Bessa [PSC-DF] e companhia. O Roriz dias antes dessa operação já a anunciava. Deu entrevistas. Na véspera, jantou com alguns jornalistas e disse que iria balançar Brasília. Na verdade, o Roriz acho que não ganharia mais de mim nas urnas e tentou fazer um grande escândalo.

FOLHA O episódio gravado em vídeo entre o sr. e Durval, no qual o sr. recebe R$ 50 mil, foi o único no qual o sr. recebeu dinheiro diretamente dele?
ARRUDA – Primeiro, não sei se foi R$ 50 mil. Eu acho que foi R$ 20 mil ou R$ 30 mil. Não sei. Que eu recebi diretamente, foi [a única vez]. Nos outros anos -2003, 2004, 2005 e 2006- ele também ajudou.

FOLHA – E como ele dava o dinheiro?
ARRUDA – A outras pessoas. Não diretamente a mim. Mas ele ajudou. Nessas campanhas de final de ano, eu pedia ajuda a pessoas físicas e jurídicas. Mais de 60. O Carrefour sempre dava. O Planaltão, o Super Maia [supermercados de Brasília]. Com esses recursos eu fazia festas nas creches e nos asilos. Há dez anos que eu faço isso.

FOLHA – Mas como o sr. declarava esses recursos?
ARRUDA
– Não declarava. Eu pegava apenas os recibos das instituições. Fazia a festa, distribuía os cartões de Natal.

FOLHA – Não teria sido mais prudente registrar obedecendo o que manda a Receita Federal?
ARRUDA – Eu nunca me perguntei isso. Não sei te dizer. A verdade é que eu fiz uns dez anos. Mas nunca teve nada escondido, não. O Carrefour por exemplo me doava oficialmente.

FOLHA – E sempre foi assim?
ARRUDA – Neste ano de 2009, lá para março, eu peguei todos esses recibos e o livro de doações e registrei no Tribunal Eleitoral sem os recibos. Só a lista de doações. Para fazer a seguinte pergunta: como este ano é pré-eleitoral eu poderia fazer a mesma coisa sem que isso fosse crime eleitoral? O tribunal analisou e disse que não tinha problema. E arquivou, inclusive.

FOLHA – O sr. registrou todos os anos anteriores agora?
ARRUDA
– Todos os anos anteriores.

FOLHA – Inclusive os registros que o sr. solicitou ao Durval que assinasse agora?
ARRUDA – Não, aí é outra história?

FOLHA – Qual é?
ARRUDA – Tem um livro de ouro no qual o nome dele consta e já estava lá no TRE. Todas as pessoas que doavam eu mandava uma cartinha agradecendo e prestando contas das entidades que receberam os recursos. Eu assinava e mandava esse recibo para todos. Todos recebiam e me mandavam o contrarecibo. Mas nem todos enviavam esse contrarecibo. Como ele não me mandou os contrarecibos e já havia os boatos de que teria vídeos e faria chantagem, eu o chamei pessoalmente e disse que todos os que doaram assinaram o contrarecibo. E ele assinou.

FOLHA – Como ele reagiu e quando foi esse encontro?
ARRUDA – Ele reagiu muito bem. "No problem". Foi recentemente.

FOLHA – Esses recibos serão periciados, pois suspeita-se que haveria uma ilegalidade…
ARRUDA
– Não, o que é ilegal é fazer recibo com data anterior. Esses têm a data atual. E ele poderia não ter assinado se não quisesse.

FOLHA – Apesar dessas suas explicações todas, como um político experiente como sr., governador do Distrito Federal, sabendo com quem tratava, manteve Durval no cargo de secretário de Relações Institucionais?
ARRUDA – Respondo em duas partes. Primeiro, grande parte, se não todos esses vídeos que estão sendo divulgados dele dando dinheiro para quem quer que seja, referem-se ao período do governo anterior ao meu. Inclusive o meu próprio [vídeo], que foi em 2004 ou 2005. Eu não sei precisar. Segundo, até próximo à minha posse nem eu nem ninguém em Brasília tinha essa imagem. Ele foi uma pessoa extremamente útil na campanha.

FOLHA – Mas depois o sr. soube?
ARRUDA – O Ministério Público me informou que ele não deveria ficar na área de informática.

FOLHA – Mas ele ficou no governo. Não é a mesma coisa?
ARRUDA – Aí… é verdade. Eu o deixei num cargo burocrático, sem orçamento. Eu ganhei eleição por dentro, então herdei muita gente que trabalhou com o Roriz.

FOLHA – O sr. já está com quase três anos de governo. Nunca percebeu que Durval cometia atos impróprios e deveria ser demitido?
ARRUDA – Sinceramente, não.

FOLHA – Nunca?
ARRUDA – Houve dois momentos em que eu fiquei com a orelha em pé. Eu tinha criado uma agência técnica de informática. Fui avisado que nessa agência ele ainda exerceria influência. Eu extingui a agência. Demiti os servidores sob suspeita. O outro episódio foi esse, quando chegaram boatos dizendo que ele mostrava o tal vídeo no qual eu aparecia recebendo dinheiro.

FOLHA – O que o sr. fez?
ARRUDA – Eu o convidei a vir aqui. Tive uma conversa amistosa. E eu falei o que me diziam. Ele falou que não era assim. Foi quando eu mostrei o recibo de todos que haviam doado. Falei que ele deveria assinar. Ele me perguntou como fazer para declarar no Imposto de Renda e eu disse: "É um problema seu".

FOLHA – No encontro do dia 21 de outubro entre o sr. e o Durval ele portava uma mala com dinheiro…
ARRUDA – Eu não sei. Ele estava com uma pasta.

FOLHA – Ele mostrou o dinheiro para o sr.?
ARRUDA – Não. Não mostrou nada disso. Nem disse que estava com ele. Disse que o empresário queria fazer uma doação. Eu disse que não estava em campanha. O ano que vem eu vou ver isso. Agora, tem várias pessoas em campanha. Ajude os aliados. Isso eu falei.

FOLHA – O sr. está seguro que ele não mostrou o dinheiro?
ARRUDA – Estou seguro. Mas está no inquérito que o equipamento de filmagem superaqueceu. Eu me pergunto, se ele tivesse aberto uma mala de dinheiro, será que teria dado o mesmo defeito no equipamento?

FOLHA – O que o sr. está sugerindo?
ARRUDA – Nada. Só acho esquisito.

FOLHA – Mas nesse diálogo do dia 21 de outubro, o sr. fala várias vezes de despesas mensais com políticos, diz ser necessário unificar. O que é tudo isso?
ARRUDA – Tem muitas coisas misturadas. Tem pedaços que eu tenho certeza que a gente falava de um sujeito que indicou cargos numa administração e estava duplicando cargos numa outra.

FOLHA – Como assim?
ARRUDA – Há um exemplo do deputado Pedro do Ovo [PRP]. Ele tinha indicado pessoas para 12 cargos num valor total de R$ 15 mil de salários somados. Ele estava pedindo outros 15. Aí eu disse não.

FOLHA – Onde Pedro do Ovo tinha esses cargos?
ARRUDA – Ele tinha no Procon, no Conselho de Trânsito e na Administração do Gama [cidade-satélite].

FOLHA – A propósito, é correto ficar distribuindo cargos públicos para deputados preencherem com quem muitas vezes não trabalha como deve?
ARRUDA – É próprio que os deputados da base de apoio ao governo tenham alguns cargos nos quais as pessoas possam dar alguma contribuição. Eu diminui os cargos. Tinha 20 mil cargos em comissão. Reduzi para 10 mil. Pedro do Ovo foi o mais votado no Gama. Ele tem uma influência. Então algumas pessoas de influência política dele são chamadas para a administração para me ajudar.

FOLHA – Esse diálogo do dia 21 contém outros trechos que indicam sua participação numa conversa sobre divisão de dinheiro…
ARRUDA – Sobre esse diálogo eu não vou mais fazer comentários por uma razão: os meus advogados estão estudando isso. Essas supostas falhas técnicas precisam ser estudadas. Eu acho que está tudo muito truncado e esquisito. Olha, filme de bandido e mocinho, muitas vezes no meio do filme a gente acha que o bandido é o mocinho. No final, as coisas sempre ficam claras.

FOLHA – Apesar de todos os indícios o sr. está dizendo que não cometeu erros?
ARRUDA – Posso ter me equivocado ao manter no governo pessoas como essa [Durval].

FOLHA – O sr. nunca conseguiu discernir o que fazia essa pessoa?
ARRUDA – Ele ocupava uma posição secundária. As coisas que eu pedia, ele sempre me atendia muito bem. Um processo no Tribunal de Contas, uma pesquisa. Não me lembro de coisas erradas.

Mas eu sabia que ele e empresários amigos dele do governo anterior estavam insatisfeitos comigo, pois os cortes foram grandes. Mas eu tentava fingir que não via para não causar problemas.

FOLHA – Mas governador, são tantos vídeos com ele dando dinheiro para tanta gente, inclusive para o sr., e mesmo assim o sr. está dizendo que nunca soube de nada?
ARRUDA – Sinceramente, não. Nos últimos meses, começaram a surgir esses boatos. Coincidiu com a saída de Roriz do PMDB. O Roriz saiu no dia 16 de setembro. No dia 15 de setembro ele [Durval] recebeu uma condenação. No dia 17 ele fez a denúncia.

FOLHA – O que o sr. falou ao Democratas?
ARRUDA – Pedi ao partido que me ouça. A minha defesa será isso que estou falando.

FOLHA – Se o partido radicalizar, o sr. também vai radicalizar?
ARRUDA – A conversa foi cordial. Eu até brinquei e disse a eles que queria que me tratassem como o PSDB tratou a Yeda [Crusius, do PSDB, governadora do Rio Grande do Sul, ameaçada de impeachment].

FOLHA – Ocorre que trata-se de um problema político.
ARRUDA – Sim, mas essas imagens são quase todas, ou todas elas, do governo anterior.

FOLHA – Se o DEM resolver expulsá-lo, como o sr. reagirá?
ARRUDA – Daí, vamos pensar. Não quero criar problemas para ninguém.

FOLHA – Se for expulso, o sr. ficaria sem partido. Não disputaria então cargos em 2010?
ARRUDA – Essa coisa engendrada pelo Roriz é com medo de me enfrentar nas urnas. Eu gostaria muito de ultrapassar esse episódio, mostrar quem é quem, e depois poder enfrentá-lo nas urnas para poder comparar os dois governos.

FOLHA – E a organização das obras para a Copa do Mundo? Com a saída de Fábio Simão [responsável pelos contatos do governo de Brasília com a CBF] haverá algum atraso.
ARRUDA – Ele não cuidava disso. Quem cuida disso é a Novacap. E também é preciso ver porque parece que não há nada contra ele nesse processo.

FOLHA – Ele pode retornar ao governo?
ARRUDA – Se não tiver nada, pode. Por que não?

FOLHA – O sr. entrou em contato com Aécio Neves (governador de Minas Gerais) para tratar desse caso?
ARRUDA – Não.

Folha Online

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