Jogando em casa, a Argentina se classificou para as oitavas de final da Copa do Mundo. A vitória por 2 a 0 aconteceu em Doha, mas parecia Buenos Aires. Um mar de camisas alvicelestes tomou conta do Estádio 974.
Muitos vieram para a capital do Qatar após o gol de Messi e o triunfo sobre o México no último sábado (26), o que causou preocupação na embaixada argentina. Torcedores circundavam a arena feita de contêineres, cartão postal do Mundial, em busca de entradas que não existiam.
O placar fez com que a Argentina ficasse com a primeira posição do Grupo C. Vai fazer as oitavas contra a Austrália, no sábado (3), às 16h (de Brasília).
A capacidade do 974 é de 44.089 pessoas. Quase a metade em relação ao palco onde a seleção ganhou dos mexicanos, o Lusail Stadium (80 mil).
A torcida argentina, sem parar um segundo e volta e meia cantando a música “Muchachos”, o hit da seleção no Qatar, ofuscou até as atuações de Lionel Messi e Enzo Fernández, dois jogadores que controlaram o que aconteceu em campo.
A Argentina fez dois gols. Poderia ter anotado cinco. E quanto mais criava chances, cada vez que Messi puxava a marcação com arrancadas, sempre que Rodrigo De Paul fazia um desarme ou Enzo Fernández achava um companheiro em condições de finalizar, a massa em Doha respondia.
Ela conseguiu transformar o ambiente indiferente e muitas vezes silencioso dos estádios do Mundial do Qatar em uma partida em La Bombonera. Mas como era jogo da seleção, não do Boca Juniors, o estádio sacudia com saltos do público cada vez que se começava a cantar que “quem não salta é um inglês.”
O clima já era elétrico antes de começar o jogo. O goleiro Emiliano Martínez enxugou as lágrimas com a luva na execução do hino.
O domínio da Argentina no primeiro tempo foi total e qualquer estatística de posse de bola (foram 57%) não conta a história dessa superioridade. Com Messi recuando para buscar a bola, como fez no segundo tempo diante do México, os sul-americanos eram ameaças constantes.
“Vamos Argentina, você sabe que eu te quero. Hoje tens de ganhar e ser primeira”, pediam milhares de vozes.
Primeiro Enzo Fernández, depois Cuti Romero vigiaram Lewandowski e ele foi pouco acionado porque a Polônia quase não foi ao ataque. Não à toa, seu destaque em campo foi o goleiro Wojciech Szczesny. Ele evitou gol olímpico de Di María e fez defesas em chutes de Álvarez e De Paul. Mas o mais importante aconteceu aos 38 minutos.
Ele espalmou pênalti cobrado por Messi. Foi segunda vez nesta Copa. Já havia feito o mesmo diante da Arábia Saudita, na rodada anterior.
Foi também o segundo Mundial consecutivo que o craque e capitão argentino desperdiçou o lance. Havia ocorrido o mesmo na estreia de 2018, diante da Islândia. Foi a jogada que marcou o início da sua derrocada no torneio, que terminou com eliminação nas oitavas de final diante da França.
Desta vez ele continuou aceso e buscando o jogo. A torcida reagiu gritando seu nome e tentando empurrar a seleção ao gol, como fez desde o primeiro minuto.
“Dê a mão a Leo Messi que todos a volta [olímpica] vamos dar”, embalou.
Se os minutos passassem e o segundo tempo continuasse sem gols, o nervosismo poderia tomar conta. Isso acabou logo aos dois, em finalização do volante Alexis MacAllister em que a bola entrou devagar e ainda bateu na trave. Acabou aos 22 com o lance de centroavante de Julián Álvarez, que aproveitou passe de Enzo Fernández.
São três jogadores que entraram na equipe e a fizeram melhor. Um contraste com o que aconteceu há quatro anos, na Rússia, quando tudo o que Sampaoli tocou, deu errado.
“Esta é a banda mais louca que existe”, enlouquecia, como sugere a música, a torcida nas arquibancadas do estádio que será totalmente desmontado após a Copa, cantou.
Nos 20 minutos finais, a Polônia, como percebeu que não perder seria impossível, começou a administrar não apenas o placar, mas os cartões. Poderia se classificar por este critério na disputa com o México pelo segundo lugar. No final, avançou graças a vantagem de um gol no saldo (0 a -1). Vão cruzar o caminho da França no domingo (4), às 12h.
A Argentina arrefeceu o ritmo em campo. A vitória estava assegurada de qualquer jeito. Mas sua torcida, não.
“Quero ganhar a terceira [estrela], quero ser campeão mundial”, encerrou a massa argentina.
No pós-jogo, MacAllister afirmou que, desta vez, a equipe teve mais de paciência. “Por sorte, hoje, em um momento muito importante, pudemos ter essa tranquilidade.” O volante ainda reclamou do gramado —”muito rápido”— e disse que, em seu gol, a bola saiu “um pouco mordia”.