Apenas 56% dos municípios paraibanos têm escolas acessíveis

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O acesso à educação é um caminho ainda com muitos obstáculos e, quando se trata de educação para pessoas com deficiência, as obstruções são ainda mais visíveis, e vão desde a ausência de uma rampa ou corrimão na escola até a falta de qualificação do professor para a educação especial. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 223 municípios paraibanos, apenas 126 (56,5%) possuem escolas aptas a receber pessoas com deficiência. Essa é a terceira menor proporção entre os Estados do Nordeste. Os outros dois estados que têm os menores percentuais de municípios com escolas aptas a receber pessoas com deficiência são Piauí, onde apenas 38 cidades (16,9%) do total de 224 têm esse tipo de escola; e a Bahia, onde 231 cidades (55,3%) do total de 417 municípios têm escolas com acessibilidade.

Em João Pessoa, uma escola pública se destaca por acolher 18 crianças com deficiência, intelectual e física. Na Escola Municipal Analice Caldas, localizada no bairro de Jaguaribe, a integração entre os alunos é tão intensa, que até se torna difícil identificar quais possuem necessidades especiais. “Gosto muito daqui. Brinco e danço com minhas amigas na hora do recreio. Não quero ir para outra escola”, conta Camila, de 15 anos, que recebe a equipe de reportagem com um abraço caloroso, por iniciativa própria. Ela tem Síndrome de Down, mas parece que esquece da deficiência quando está no colégio.

Essa sensação de igualdade é fruto de um trabalho apoiado no tripé acessibilidade, acompanhamento psicopedagógico e inclusão. “Aqui nós esquecemos das deficiências e trabalhamos as potencialidades dos nossos alunos”, afirmou a diretora Francisca Gomes Barreto. A escola conta com um cuidador por turma, que presta assistência básica aos alunos especiais, como levar ao banheiro e ajudar a escrever, no caso daqueles que têm problemas no desenvolvimento motor. O colégio também é todo acessível para os cadeirantes, com rampas, corrimãos e banheiros adaptados. Uma psicopedagoga acompanha as crianças com deficiência, com atendimentos individuais, em um ambiente todo voltado para eles, chamado de Sala de Recursos. Lá, eles trabalham suas dificuldades motoras e psicológicas em atividades como pintura, informática e brincadeiras.

O histórico da Analice Caldas como escola inclusiva é antigo. De acordo com a diretora, o colégio recebe crianças e adolescentes com deficiência há mais de 20 anos, quando ainda nem se falava sobre inclusão. “A gente acolhe muito bem essas crianças. E é algo natural, quem vem estudar ou trabalhar aqui tem que abraçar essa causa. O mais bonito nisso tudo é que as outras crianças tratam os especiais muito bem. Não tem apelidos nem nada de preconceito. Um cuida do outro, ajuda a levar para o recreio. Eles são nosso maior exemplo”.

Segundo a psicopedagoga Rosana Germoglio, a naturalidade e afeto com que são tratadas é um diferencial no tratamento das crianças com deficiência, ajudando inclusive no desenvolvimento. “Com o suporte que proporcionamos e o amor que elas recebem dos seus amiguinhos e professores, as crianças melhoram suas limitações e ficam mais independentes”, assegura.

Uma das crianças especiais que mais conseguiu evoluir desde que chegou à escola foi Gabriel Roberto, de 13 anos. Por causa da paralisia cerebral, ele tem dificuldades cognitivas, na fala e mobilidade. “Ele chegou aqui sem andar, tinha que ser carregado”, lembra a diretora Francisca. Hoje, depois de quatro anos de acompanhamento fonoaudiológico, equoterapia, fisioterapia e muito carinho, Gabriel caminha, fala e interage com todas as crianças. “Eu gosto daqui porque as pessoas são boas comigo. Meus amigos me ajudam muito”, conta, de olho nas outras crianças, ávido para se juntar a elas. “Eu gosto mesmo é de jogar futebol. Eu sou goleiro”, revela, antes de voltar a brincar.

Ao falar de Gabriel, a diretora deixa o profissionalismo de lado e permite que as lágrimas escorram. “É lindo demais ver o progresso dessas crianças. Gabriel chegou aqui sem andar, entende? E agora ver ele assim, brincando, falando, se desenvolvendo, é muito emocionante. Só quem está no dia a dia com esses pequenos sabe o valor disso”.

Na Capital, 85% têm acessibilidade

Do total de 95 escolas da rede pública municipal de João Pessoa, 80 (85%) têm equipamentos de acessibilidade para pessoas deficientes, conforme o secretário de Educação da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), Luís de Sousa Júnior. Contudo, apenas 39 possuem salas de recursos multifuncionais. Segundo ele, até o final deste semestre serão instaladas mais 20 novas salas como essas e a aquisição de 11 novos ônibus adaptados para estudantes municipais.

O assessor de Obras da Secretaria de Estado da Educação, Ernesto Batista, informou que estão sendo construídas 45 novas escolas em todo o Estado e todas possuem equipamentos de acessibilidade. “Todas possuem rampas, corrimãos em entradas e banheiros. Agora não estão sendo colocados equipamentos como sinais sonoros e placas indicativas em libras, mas acredito que isso será colocado posteriormente”, comentou o assessor.

Sem ações para trabalhar com diferenças sexuais

Ainda conforme os dados do IBGE, do total de 223 municípios paraibanos, 19 ainda não têm programas ou ações que visam a inclusão de deficientes. Entre os demais, 170 cidades têm programas para aumentar o número de itens de acessibilidade nas escolas; 146 têm programas para criar salas de recursos multifuncionais; 121 têm programas para formação continuada de professores na Educação Especial; 136 têm programas de combate à discriminação nas escolas; 146 têm programas de combate à violência nas escolas e apenas 13 têm programas de manutenção de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais nas escolas.

O secretário de Educação da PMJP lembrou ainda que em todas as escolas da rede municipal de ensino há intérprete de libras e para cada estudante com deficiência há um profissional cuidador. “Mas não são todos os estudantes deficientes que precisam de cuidadores, mas aqueles que têm dificuldade de locomoção ou que não consigam ir ao banheiro ou se alimentarem sozinhas, por exemplo”, explicou.

Luís Júnior disse que está fazendo o levantamento da quantidade de cuidadores contratados pela prefeitura. Ele lembrou que também estão sendo treinados profissionais para atender às necessidades das pessoas com deficiência e também para operar as salas com recursos multifuncionais. “Essas salas funcionam como núcleos que dão suporte a todas as outras escolas. Estamos negociando com o MEC a instalação das novas salas e esperamos instalá-las ainda neste semestre. Com relação aos 11 ônibus adaptados, vamos identificar as localidades onde há mais necessidade”, explicou.

Correio da Paraíba

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