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Aos mestres, com carinho

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O jornalista paraibano Assis Tito, radicado em Minas Gerais, escreveu um texto para o ParlamentoPB por ocasião da passagem dos 30 anos de morte de José Soares Madruga, registrados neste sábado, 14 de dezembro. As lembranças do jornalista se confundem com a história da imprensa da Paraíba e de grandes nomes do nosso jornalismo. Confira:

OTINALDO LOURENÇO E JOSÉ SOARES MADRUGA

Assis Tito
 [email protected]

 

A cidade de João Pessoa era outra. O Ponto de Cem Réis era outro. Nós, no início da década de 60 éramos outros, jovens, idealistas, impulsivos. Mudanças começavam a acontecer na comunicação da capital paraibana. A rádio Arapuan AM, fundada por Orlando Vasconcelos estava passando para as mãos do empresário e usineiro Renato Ribeiro Coutinho, com intermediação de seu diretor de programação, Otinaldo Lourenço de Arruda Mello e bençãos de seu amigo, deputado estadual Clóvis Bezerra, presidente da Assembleia Legislativa, e líder político na região de Bananeiras. “Dr. Renato”, como o chamávamos, entregou a direção geral para Otinaldo. A emissora estava de estúdios novos, melhor instalada, na Rua Duque de Caxias, 550, 3º.and . Aqui se inicia uma nova história do rádio na Paraíba.

Nessa época, nos meus 17 anos de idade, começava minha carreira profissional colaborando no jornal “Tribuna do Povo” (Rua Duque de Caxias, 260), também propriedade de “Dr. Renato”, escrevendo semanalmente sobre rádio, “Rádio, etc e tal”, tendo como colega de redação o José Octávio de Arruda Melo, irmão de Otinaldo, que mantinha uma coluna diária sobre política. Todos sob a batuta dedicada de Archimedes Cavalcanti. Aqui um merecido parêntese: um jornal com o nome “Tribuna do Povo”, propriedade de um usineiro, das chamadas “classes produtoras”, que tinha como colunista Zé Octávio, um jovem progressista, engajado em pensamentos renovadores.Hoje, passados quase 60 anos, ainda me pego rindo sozinho do esforço de Archimedes em equilibrar o pensamento conservador do dono do jornal e seu grupo político e as ideias revolucionárias de seu talentoso colunista. Foi aí que conheci Otinaldo e nos identificamos por paixão pelo mesmo meio de comunicação, o rádio, e um hábito comum de ouvirmos as mesmas emissoras, do Brasil e do exterior. Daí passar para a rádio Arapuan foi um pulo, começando como “rádio escuta”, para gravar os noticiários das melhores rádios do Brasil e do mundo, e reescrever os boletins de notícias para o “Plantão Arapuan”, o noticioso da estação, de hora em hora, nas meias horas, e concorrer com o informativo da Rádio Tabajara, que era nas horas cheias.

Logo, logo, me foi acrescentado mais uma tarefa, “corretor de anúncios”, já que gravando as rádios do Rio e São Paulo, ouvia os grandes anunciantes que irradiavam seus comerciais Brasil afora, Gessy-Lever, Sydney Ross, Varig, Cerveja Antarctica. A nova tarefa me levou a visitar clientes e agências de publicidade no Rio, São Paulo, Recife. E, circunstancialmente, no final de 1962, participar no Rio de Janeiro da sessão da fundação da Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), em evento ocorrido na ABI (Associação Brasileira de Imprensa) que elegeu João Calmon, primeiro presidente da entidade. Calmon, era senador pelo Espirito Santo, e diretor das Emissoras e Diários Associados, fundada por Assis Chateaubriand. Aliás, Calmon, como todo bom político, ao me identificar no auditório como representante da Paraíba, destacou o fato de sua mãe ser paraibana e seu chefe, Chateaubriand, também. Nessa mesma viagem, Otinaldo me deu a tarefa de mandar gravar uma nova vinheta de abertura do “Plantão Arapuan”. Ao sair da ABI fui ao estúdio de áudio mais famoso da época, do Jorge Abicalil, que ficava ali perto, dando de cara com Cid Moreira que acabara de gravar alguns comerciais. Na época, a TV Globo permitia. Jorginho, me perguntou: “Quer gravar com o Cid?” Respondi: “Sim, mas ele deve cobrar muito caro”. Jorginho: “Deixa comigo. Eu faturo. Faz o texto”. Rapidamente escrevi: “Destaque… destaque para a noticia: Plantão Arapuan”. Cid entrou na cabine, e gravou o mesmo texto em três entonações diferentes para que escolhêssemos. Qualquer uma delas estaria excelente. Saí dali feliz da vida, louco para voltar a João Pessoa para colocar a novidade no ar. Essa abertura foi usada durante muitos anos.

Comemoramos tudo com um belo almoço na casa de Otinaldo, preparado pela mãe dele, dona Otília, na Rua Santos Dumont, próximo ao parque Solon de Lucena. Aliás o nome Otinaldo é uma homenagem a seus pais, dona Otília, e “seu” Arnaldo. Na sobremesa, era comum escutarmos grandes jazz-bands, paixão de Otinaldo, em especial as do maestro Henri Jerome e sua orquestra Metais em Brasa, principalmente o tema do filme “O homem do braço de ouro”.

Otinaldo Lourenço é, sem dúvida, um dos mais competentes gestores de rádio que conheci. Sua habilidade era rara em misturar na programação o gosto mais elitizado, que ele aprendeu ouvindo a Rádio Jornal do Brasil e a BBC de Londres, e o sabor popular que os comunicadores, os “disc-jockeys”, faziam. Na política, fugia da polarização direita-esquerda, se assumia um democrata defensor da monarquia, em especial a inglesa. A programação fazia sucesso com “Mesa de redação” , “Antena política”, ”Jornal Sensacional”, “Dramas e comédias da cidade”, “Plantão Arapuan”, “Clube dos amigos da noite”. Com bom humor, paciência, dedicação coordenava a redação com Luiz Andrade, Erialdo Pereira, Roberto Oliveira, Ivan Tomaz, Anco Marcio entre outros. Na locução. Nauda de Abreu, Metuzael Dias, João Almeida Tourinho (irmão de Mário Tourinho), Ari Silva.

Autodidata na comunicação, como todos nós, Otinaldo, o “Mago” ou o “Magro”, era fã das normas de redação de Carlos Lacerda, que antes de ser político era um combativo jornalista.

Ao mestre, minha eterna gratidão.

MADRUGUINHA

Teotônio Neto (Francisco Teotônio Neto, 28/11/1918 -) é na história da Paraíba talvez o empresário com uma trajetória de vida mais instigante, mais bonita. De origem pobre, nascido no interior do município de Santana dos Garrotes, PB, vem a tornar-se empresário bem-sucedido, dono de moinhos de trigo, banco, seguradora, editora, fundador do jornal “Correio da Paraíba” (5/8/1953) e posteriormente da rádio Correio da Paraiba (1968).

Em outubro de 1962 é eleito deputado federal, pela primeira vez, pelo então PSD, com a maior votação daquele ano na Paraíba. Com o advento do movimento político-militar de 1964, e surgimento do bipartidarismo, ele passou para a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), que já contava com o governador João Agripino. Os dois senadores eram ex-governadores, Argemiro de Figueiredo e Rui Carneiro, da oposição, MDB. Seu assessor de imprensa era o jornalista J. Soares Madruga, que ocupava o cargo de diretor de redação do jornal “Correio da Paraíba”, sendo seu principal colunista político. Em 1966 Teotônio se candidatou a reeleição muito preocupado com o pleito porque havia no ar uma onda oposicionista, emedebista, e contratou como marqueteiro um renomado publicitário carioca, R. J. Albano. A criação para a campanha era belíssima, quase toda produzida no Rio, e o forte era a parte para rádio, muita música, “jingles”, canções, até rádio novela. Na época a Paraíba ainda não tinha tv local. Nesse clima, Soares Madruga me chamou, representando o setor comercial da Arapuan, no Comitê Político para conversar. Desejava basicamente ocupar todos os intervalos comerciais. Propaganda política era paga e não havia limite de tempo. Era o que a verba desse. Só existia a Arapuan, a outra emissora, a Tabajara, era do governo do Estado, e tinha restrições para esse tipo de publicidade. Fizemos uma bela negociação, Teotônio foi reeleito, e daí resultaram dois fatos: um, me aproximei bastante de Madruga, pessoa muito agradável, afável, se estabeleceu uma boa relação; dois, Teotônio viu que havia mercado para mais uma rádio, principalmente para ele que já tinha um jornal e grandes aspirações políticas. No ano seguinte, conseguiu a concessão de uma AM para a frequência de 1230 KHz, a rádio Correio da Paraíba. Promoveu Madruga a diretor do jornal e deu-lhe a tarefa de instalar a rádio.

No começo de 1968 prestei vestibular para Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco. Aprovado, desliguei-me da Arapuan, fui morar em Recife, e trabalhar na filial pernambucana de uma empresa carioca de representação comercial de jornais, a Reprenaes, que tinha entre seus filiados o jornal Correio da Paraíba. Voltei a estar mais próximo de Madruga. Decorridos dois meses do curso na Universidade, a faculdade foi fechada acusada de “subversiva”. Recebi, então, a visita de Madruga no escritório em Recife (Av. Dantas Barreto, 576 – Ed AIP – Associação de Imprensa de Pernambuco, 10 and.), que me contou sobre o projeto da Rádio Correio da Paraíba AM, convidando-me para trabalhar com ele. Acumularia as gerências comerciais do jornal (Rua Barão do Triunfo, 460) e da rádio que seria instalada na Praça Vidal de Negreiros, 427, 1º and. – Ponto de Cem Reis.

Uma semana depois, já estava dando expediente no jornal e com dois desafios. O primeiro deles era comercializar a edição do décimo quinto aniversário do jornal que circularia no dia 5 de agosto. O secretário de redação era o competentíssimo Carlos Roberto de Oliveira. Na equipe, o Biu Ramos, Gonzaga Rodrigues, João Bosco Gaspar, Luiz Augusto Crispim, eventualmente João Manoel de Carvalho e até Dulcídio Moreira. A edição foi um sucesso. O segundo, era atender um pedido do Teotônio Neto. Ele gostaria que a inauguração da rádio fosse com um show grátis, em praça pública, no Ponto de Cem Reis, com um dos dois artistas que faziam muito sucesso naquele ano: Jair Rodrigues (com “Deixa isso pra lá”) ou Clara Nunes (“Você passa e eu acho graça”). Conseguimos o Jair. Foi um sucesso.

Sucesso também foi a rádio, sob a direção geral de Soares Madruga, supervisão artística do queridíssimo maestro Pedro Santos e coordenação de jornalismo de Biu Ramos. Não podia dar errado. Os melhores locutores foram para lá, Anco Márcio, Marcus Machado, Ivan Tomaz, Iedo Ferreira, Marcônio Edison, entre outros.

Meu convívio com Madruga era intenso devido a nossas tarefas. Pela manhã em geral estávamos na rádio e tarde/noite no jornal, além de viajarmos para Recife, Rio e São Paulo em busca de anunciantes para as empresas. “Madruquinha”, 1m52, de uma pessoa ímpar, muito inteligente, sagaz, fiel ao deputado Teotônio Neto, nosso patrão, também simples e ousado nas inovações. Dei muita sorte.

Diz a história (ou a lenda) que o nome de José Soares Madruga seria José Loureiro Soares. Nascido no Sitio do Cardoso, em Itaporanga, PB, em 25 de dezembro de 1930, seu pai, Francisco das Chagas Soares, madrugou na casa do tabelião Antônio Vital, para fazer o registro daquele primogênito, já que sendo mascate precisava levar seus produtos para a feira de Nova Olinda. Incomodado, Vital incluiu Madruga no nome do registrado.

No segundo semestre de1969 mudei-me para São Paulo, depois para o Rio de Janeiro, por onde já andavam meus amigos João Almeida Tourinho, Luiz Andrade e Erialdo Pereira. Perdi o convívio com Madruga, com seu irmão Paulo Soares e dona Teó, a santa esposa de Madruga.

Em 14 de dezembro deste ano, registram-se 30 anos de seu falecimento, ocorrido no hospital João XXIII, em Recife, em 1989. No próximo ano, 2020, comemoram-se 90 anos de seu nascimento.

Em 28 de novembro o deputado Teotônio Neto comemorou no Rio de Janeiro seus 101 anos de idade, lúcido, cultivando o idealismo como forte de energia. José Octavio de Arruda Mello acaba de escrever um livro sob sua trajetória de vida. Imperdível.

Aos mestres, meu carinho.

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