Quais competências são necessárias para que uma pessoa possa analisar de maneira crítica as informações a que tem acesso? Questionei-me sobre isso ao ler matérias recentes que citavam a adoção da alfabetização midiática como estratégia do governo da Finlândia no combate às fake news.
Atualmente, a Finlândia ocupa o primeiro lugar no mundo no ranking que mede a resiliência à desinformação, segundo estudo anual do Instituto Open Society. Em 2016, o currículo do sistema escolar finlandês foi adaptado para ensinar às crianças as habilidades necessárias para identificar notícias falsas. O tema é tratado em matemática, artes, línguas, enfim, todas as disciplinas.
Para obter sucesso no combate às notícias mentirosas, o governo da Finlândia desenvolveu duas políticas: o Programa Governamental da Sociedade da Informação (Government Information Society Programme, 2007- 2011); e o Programa de políticas para o bem-estar de crianças, jovens e famílias, as quais enfatizam objetivos e medidas envolvidos na segurança de ambientes midiáticos, alfabetização midiática e serviços on-line.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), outros países têm ações de Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) que merecem destaque. A Índia montou uma força-tarefa para desenvolver um consenso nacional entre todas as bibliotecas sobre as iniciativas de desenvolvimento de políticas para tornar o país uma sociedade alfabetizada em informação; e o governo da Argentina criou uma política nacional sobre alfabetização midiática com múltiplos atores, como associações midiáticas (estações de rádio, canais de TV, cinemas e revistas nacionais), empresas privadas e o sistema educacional.
No Brasil, o Instituto Palavra Aberta, uma entidade sem fins lucrativos, é um importante agente no combate não apenas à desinformação, mas também no fomento à educação midiática e informacional como instrumento de empoderamento dos cidadãos. Desde 2019, o instituto desenvolve o programa EducaMídia, que atua na formação e no engajamento de professores no processo de educação midiática de jovens. Mais recentemente, também foi lançado o EducaMídia60+, para que pessoas com mais de 60 anos de idade possam desenvolver as habilidades necessárias para participar plenamente da sociedade conectada.
A Alfabetização Midiática e Informacional, como conceitua a Unesco, compreende o “conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos — dos impressos aos digitais”. Para a população, os benefícios da AMI podem ser resumidos da seguinte forma: 1. Maior participação ativa e democrática; 2. Conscientização sobre as responsabilidades éticas da cidadania global; 3. Permitir o diálogo intercultural, a tolerância e a compreensão cultural.
E quais competências os indivíduos devem ter para consumir conteúdos com criticidade? A Unesco aponta: compreender a importância e o ambiente necessário para mídia, internet e outros provedores de informação, avaliar e usar as informações com senso crítico para compartilhar cultura, desenvolvimento, democracia e paz etc. Acrescente-se a isso, definir as necessidades informacionais, localizar, avaliar, organizar, usar de maneira ética, comunicar a informação e produzir conteúdo. Mais: melhorar o acesso à informação, a pesquisas, a estudos, à aprendizagem e à vida pessoal.
Proporcionar Alfabetização Midiática e Informacional a todos nós — e não apenas a quem hoje está nos bancos físicos ou virtuais das escolas — é essencial. Urgente até. E os levantes golpistas na frente dos quartéis no Brasil (inflados pela propagação de fake news), são uma prova disso.