O mês de junho de 2013 ficou marcado pelos maiores protestos desde a redemocratização. O que se via nas ruas das principais cidades do país, era um sentimento coletivo por mudanças políticas, com o intuito de melhorar os serviços públicos e garantir que os direitos básicos, embasados constitucionalmente, fossem efetivamente colocados em prática. Um busca por pertença arregimentou jovens, adultos e idosos em um só coro: “o gigante acordou”, dessa forma, a população não era “só público” (frase do escritor Lima Barreto para definir o conformismo social), pois agora voltava a ocupar o protagonismo que lhe é inerente.
É a luz desse fato que se podem entender os significados e as consequências das manifestações que sacudiram Paris em 1968. Frise-se, que para muitos estudiosos, os dois eventos, guardadas as devidas proporções, registram semelhanças. Por exemplo, em um determinado momento das passeatas no Brasil, havia múltiplas reivindicações em cartazes: mais saúde, educação padrão Fifa; em outros havia pedidos bem mais complexos, como Fora Dilma, Impeachment já, Pelo fim do congresso. Embora compreensíveis, há um claro desacordo com o regime institucional estabelecido, ou seja, um enfrentamento aos aparatos estatais. Além disso, outra similitude,é a falta de uma liderança que evidencia e personifica o desejo de uma massa (se bem que nesse caso, ela ganha novos dimensionamentos) ávida por transformações.
Nessa perspectiva, três outros pontos de convergência, foram os epicentros dos levantes: primeiro, no caso de Paris de 68, a vontade de instituir dormitórios mistos na Universidade de Nanterre; no Brasil, o aumento de vinte centavos na tarifa de transporte público em São Paulo; Em ambos havia a repulsa a partidos e também certa difusão das reivindicações, o que na essência, prejudicou o diálogo e o cumprimento das propostas defendidas.
Indiscutivelmente, o ano de 1968 ainda ecoa na sociedade pós-moderna, permeada pela fragmentação em suas relações, Os ideólogos de a imaginação no poder, provocaram uma revolução existencial que ressignificou o papel do sujeito em sua realidade.
A série de mobilizações oriundas das universidades, que chegou a ganhar o apoio de dois terços dos trabalhadores franceses e desestabilizou o governo de Charles de Gaulle, propugnava um novo olhar acerca dos parâmetros estabelecidos (morais e religiosos), e atacava o excesso de burocratização do estado, que na sua formatação, atrofiava o cidadão, retirando-lhe sua autonomia e a capacidade de transgredir.
A manutenção do status quo interessa os que no poder, tentam fazer da população, um rebanho condicionado a apenas obedecer e seguir às normas, que somados aos seus instrumentos de repressão, busca silenciar qualquer tentativa de questionamento da ordem vigente.
Mas como os sonhos estudantis dos franceses proliferaram-se na Europa e cruzou o Atlântico? Tema de nossa segunda parte da coluna na semana que vem!