Bertrand Lira

Bertrand Lira é cineasta e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB/Campus I
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A recente produção cinematográfica brasileira chega às telas dos festivais e das salas de cinema

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Na 9ª edição da Mostra de Cinema de Gostoso, que aconteceu entre os dias 4 e 8 passados em São Miguel do Gostoso (RN), 07 longas-metragens da nova safra do cinema brasileiro surpreenderam pela temática, sobretudo, mas também pelas propostas narrativas. Três dessas obras estão em cartaz no Cine Banguê do Espaço Cultural: ‘A mãe’, dirigido por Cristiano Burlan (SP, 2022); ‘Paloma’, de Marcelo Gomes  (PE, 2022); e ‘Carvão’ , de Carolina Marcowicz (SP, 2022). Em ‘A mãe’, temos o protagonismo de Marcélia Cartaxo (Melhor Atriz no último Festival de Gramado) e em ‘Paloma’, a presença das atrizes paraibanas Suzy Lopes e Ana Marinho, além do ator Buda Lira no elenco.

A curadoria da Mostra de Cinema de Gostoso acertou em cheio ao selecionar obras que, embora ousadas, nos aspectos estéticos e narrativos, como, por exemplo ‘Mato seco em chamas’(2022), do Distrito Federal, dirigida por Adirley Queirós e Joana Pimenta, conseguem uma comunicação com o público. ‘Mato seco em chamas’ é uma ficção com tratamento realista que incorpora personagens e situações documentais. Estruturado numa montagem não linear, o filme traz às vezes longas sequências no estilo documentário observacional, o que torna sua duração excessiva (153min). O curioso é que todos os longas exibidos na mostra são lançamentos de 2022.

O circuito Penedo de Cinema tem início nesta segunda, dia 14, e se estende até o dia 20  apresentando produções deste ano e do ano passdo. Abre o circuito o sensível filme do capixaba Rodrigo de Oliveira, ‘Os primeiros soldados’ (2021), sobre a tragédia da AIDS no meio da comunidade LGBTQIA+ no início da década de 1980. Ainda, na programação da Mostra de Longa-Metragem Nacional (apresentada presencialmente e on-line), a pernambucana Renata Pinheiro está com ‘Carro Rei’ (2021), uma fantasia que aborda temas sociopolíticos da realidade brasileira. O filme foi agraciado em Gramado no ano passado com o 

Na safra de longas realizados em 2022, a mostra traz ‘De repente Drag’, dirigido e roteirizado por Rafaela Gonçalves, que tem no elenco o versátil Silvero Pereira. O filme abriu o 11º LGBTQIA+ Rio Festival de Cinema e teve estreia nas salas de cinema em agosto deste ano; Já ‘Eduardo e Mônica’, de René Sampaio, inspirado na canção homônima de Renato Russo, teve sua estreia no início deste ano simultaneamente no Brasil, Estados Unidos e Portugal. Por seu turno,  o cineasta e militante da causa negra Joel Zito Araújo está no Circuito de Penedo com seu longa mais recente, ‘O pai de Rita’ (2021), que estreou na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Joel Zito é diretor do célebre ‘A negação do Brasil’ (2000), um filme visceral sobre as mazelas do racismo estrutural e da escravidão no país.

E encerrando o Circuito, ‘A mãe’, de Cristiano Burlan que entrou em cartaz este mês em diversas salas de cinema do país. Por vestir a pele de Maria, em ‘A mãe’, Marcélia Cartaxo recebeu o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado deste ano. O filme também foi agraciado com o troféu  de  Melhor Direção e Desenho de som. Diretor e atriz estarão em Penedo para apresentar o filme. Burlan é autor de três filmes que são uma incursão arqueológica na dor da perda: ‘Elegia de um crime’ (2018), ‘Mataram meu irmão’ (2013) e ‘Construção’ (2006), dois longas e um média-metragem que compõe a Trilogia do Luto, assim nomeada pelo diretor gaúcho.

Apesar desses anos de pandemia e de um governo obscurantista que tentou a todo custo destruir a ciência, as instituições e a cultura, o cinema brasileiro resistiu e produziu uma safra de excelentes filmes de baixo orçamento com reconhecimento em festivais internacionais e nacionais. Numa atmosfera de esperança de mudanças, a tendência é termos mais cinema nacional nas mais diversas janelas. Além do estorvo da pandemia, muitos filmes não chegaram às telas pela dificuldade estrutural de exibição no país. Sem contar que os editais de distribuição ficaram emperrados nos últimos quatro anos, o que dificultou a circulação de muitos filmes. Mas há luz no fim do túnel.

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