Pouca gente acreditava que o empresário Roberto Santiago poderia ser preso. A descrença faz parte da nossa cultura alimentada pela seletividade da Justiça que até bem pouco tempo deixava livres os ricos e influentes e encarcerava apenas quem não tinha “costas quentes”. Nossa recentíssima história, contudo, tem mostrado que essa máxima mudou. Se não por completo, ao menos em partes. Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer, José Dirceu, Joesley Batista, Pezão, Sérgio Cabral… todos foram presos. Aécio Neves não foi. Vê que a situação não mudou para todo mundo?
Mas, na Paraíba, a prisão de Santiago foi um episódio histórico. Ao longo de sua ascensão, ele arrebanhou grandes amigos e também inimizades inflamáveis.
É inegável a capacidade empreendedora de Roberto. Ele criou um dos maiores shoppings do Brasil e gera muitos empregos. Mas, também não se pode esconder que a construção do Manaíra Shopping gerou um crime ambiental, aterrou parte de uma área de mangue. A atitude, aliás, não é incomum. Em Recife, o Rio Mar também repetiu o feito. Em Porto Alegre, o Total também fica em área aterrada. Parece ser uma espécie de praxe. As autoridades processam mas, em nome do ‘impulso na economia’, fica por isso mesmo.
Mas, o que levou Roberto Santiago à prisão foi algo mais grave do ponto de vista do imaginário comum. Não tem a ver com os caranguejos do mangue, nem com os danos ao Bairro de São José. Ele é acusado de comprar um mandato de prefeito, posto à venda por Luceninha, para um amigo seu, Leto Viana. Levou o escolhido para a posse em sua Lamborghini para que não restasse dúvida de que literalmente era através dele, Roberto, que o sujeito chegava ao cargo. Depois disso, segundo a denúncia do Ministério Público, a prefeitura virou um local de negócios à agressiva maneira privada. Para dizer pouco.
Apesar de tudo isso, a prisão de Roberto Santiago não é motivo para comemoração. É um triste sinal de uma sociedade que se baliza pelo que Silvio Santos sabiamente batizou em um programa já saudoso: “Topa tudo por dinheiro”. Até para quem já tem fortuna, a possibilidade de instrumentalizar uma forma de aumentá-la, aliada à ideia de impunidade, são sedutoras demais para serem resistidas.
A prisão dele ajuda a quebrar essa lógica de que renomados advogados e dinheiro abundante no caixa seriam suficientes para evitar que a Justiça puna quem incorre em crime.
Não há motivo para alegria pela prisão do homem. Ele tem família, uma história e, como cada um de nós, merece respeito.
O sentimento que cabe é outro, impessoal, genérico, de esperança de que nossa sociedade de fato esteja mudando.
A título de exercício, a quem aplaude, recomendar-se-ia (Temer não é de todo mau) pensar o seguinte: estando no lugar de quem achincalho, eu agiria diferente, faria a mesma coisa ou seria ainda pior?