Desde o início da pandemia do novo coronavírus, praticamente todos os segmentos econômicos têm enfrentado sérias dificuldades financeiras. Com o isolamento social, as lojas, bares, restaurantes e shoppings fecharam as portas e diminuíram seu volume de negócios quando não faliram. O reflexo disso tudo pôde ser sentido também na Comunicação. Os veículos perderam maciçamente seus anunciantes e fizeram cortes de pessoal para tentar equilibrar receita e despesa.
Ironicamente, coube a nós jornalistas cobrir as dificuldades de todos, mas as nossas não foram manchete. Na Paraíba, praticamente todos os grupos de comunicação fizeram demissões substanciais.
Alguns exemplos mais chamativos das agruras da comunicação paraibana que agoniza entubada numa UTI qualquer: sob o carimbo da crise econômica da pandemia, o jornal Correio da Paraíba morreu. Demitiu todos os funcionários e parcelou as recisões em até 10 vezes. A rádio Cabo Branco FM se automatizou e dispensou todos os 3 (!!!!) locutores que tinha. A Rede Tambaú de Comunicação sepultou junto com o Tambaú Notícias seus 26 anos de jornalismo e apresentou em embalagem reluzente o “futuro”, batizado de “info-entretenimento”.
Nas universidades, somos ensinados que a tendência atual exige do novo profissional que seja “multiplataforma”. Traduzindo: tenha capacidade de atuar em TV, rádio, internet e domine as diferentes linguagens de cada veículo. Mas, aí tem a infeliz da crise e vai obrigar esse super-jornalista atualizado e antenado e receber por uma só dessas complexas funções. E não faça cara feia para não perder seguidores nas redes sociais, importantíssimas nessa modernidade líquida.
Em 1993, o diretor espanhol Pedro Almodóvar colocou nas telonas uma personagem que mostraria já naquela época um pouco do que o futuro reservaria aos profissionais de comunicação. Andrea Caracortada, vivida por Victoria Abril, era uma apresentadora de programa sensacionalista que vivia com uma câmera acoplada ao capacete e holofotes na altura dos seios para que pudesse se deslocar, entrevistar, iluminar e filmar ao mesmo tempo e sozinha o que seria levado ao ar no sugestivo programa “O Pior do Dia”.
Voltando ao “pior” nosso de cada dia, entristece pensar no que espera o jornalismo quando a pandemia passar e ele conseguir deixar a UTI. Profissionais pejotizados, cargas horárias maiores, salários mais baixos e o pêndulo da demissão ameaçando cada cabeça que ainda tiver assento nas redações.
Os mais velhos correram ou ainda correm para o universo informativo online. O nome e o trabalho têm que atender às normas do CPM, o custo por mil, métrica que rege as relações publicitárias que “monetizam” os blogs e sites. Se não atingir muitos milhares de acessos, não sobrevive na selva cibernética.
E os mais novos? e os jornalistas que estão se formando e chegando agora ao mercado? que recepção terão? que espaço terão nesse mundo do novo normal revirado pelo vírus e pelas moderníssimas formas de consumir conteúdo informativo?
Respire fundo. A realidade pandêmica tirou boa parte do ar que ainda restava ao jornalismo, mas é preciso seguir e se reinventar rapidamente porque é isso que o tempo e o espaço líquidos exigem dos profissionais de comunicação.