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‘A ilha de Bergman’, de Mia Hansen-Løve, transpira cinema em cada fotograma

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A diretora francesa Mia Hansen-Løve decidiu homenagear o maior expoente do cinema sueco, Ingmar Bergman, criando uma história que se passa na ilha de Fårö, onde ele viveu por quase cinco décadas e usou o cenário árido da ilha para locações de filmes como ‘Através de um espelho” (1961). Num instigante jogo metalingüístico, ‘A ilha de Bergman’ (2021, 112min) fala da visita à Fårö do casal de cineastas, Chris (Vicky Krieps), para escrever um novo roteiro, e Tony (Tim Roth), bem sucedido realizador e grande fã de Bergman, para um colóquio sobre o diretor.

Com première mundial no último festival de Cannes, o filme de Mia Hansen-Løve, que também assina o roteiro, chegou às salas de cinema de algumas cidades brasileiras na última semana de fevereiro. Distribuído pela Pandora Filmes, ainda não tem previsão de chegada às plataformas de streaming. Como os filmes de Ingmar Bergman, Mia Hansen-Løve traz nesta trama, questões existenciais como relacionamentos amorosos, a independência feminina e sua afirmação num universo profissional, o cinema, dominado por homens – a começar pela relação entre Chris e Tony, casal protagonista do enredo. 

O par romântico está feliz com a imersão no “mundo” de Bergman, cenário de vários de seus filmes, refúgio e sua derradeira morada, quando faleceu em 2007. Foi na ilha de Fårö que o sueco rodou também, além de dois documentários, os longas ‘Persona’ (1966), ‘A hora do lobo’ (1967), ‘Vergonha’, (1968) e ‘A paixão de Ana’ (1969). E para a televisão, uma de suas mais conhecidas obras, ‘Cenas de um casamento’ (1973). Chris se queixa do companheiro de não compartilhar o que ele está escrevendo e do seu desinteresse em saber o que ela está produzindo. Ofuscada pelo prestígio de Tony enquanto diretor, Chris só vai revelar o enredo do roteiro que está criando quando chega a um impasse que a paralisa.

Até esse momento, o enredo de ‘A ilha de Bergman’ segura um espectador cinéfilo fascinado pela obra do sueco – lá os dois imergem na filmografia de Bergman, assistindo seus filmes em película numa fundação (Centro Bergman) dedicada à preservação e difusão de sua obra, visitando cenários de seus filmes, e participando de palestras. A partir daí, a metalinguagem trabalhada na trama deixa de ser apenas citações do universo e cenários de filmes do diretor sueco e passa para um jogo de autorreferências ao cinema, muito mais interessante.

Chris, com dificuldades de encontrar um desfecho para a história de seu roteiro – a visita de uma bela jovem à ilha de Fårö  (Mia Wasikowska) para o casamento de uma amiga, ocasião em que encontra um antigo namorado (Anders Danielsen Lie), agora casado, e por quem continua apaixonada. À medida que Chris narra sua história para Tony, “seu filme” é materializado na tela, confundindo o espectador em diversos momentos ao misturar a primeira narrativa com a segunda. Um filme dentro de outro filme, sem, no entanto, apresentar os bastidores de uma filmagem. O intrigante exercício metalinguístico proposto pelo filme nos leva a essa deliciosa narrativa em abismo, cuja montagem de Marion Monnier tem papel fundamental. 

Quando, aos 85 anos, decidiu se instalar de vez em Fårö, em 2003, Bergman comprou um velho celeiro e construiu um cinema particular. Lá iniciou um breve romance com a atriz norueguesa Liv Ullmann. Os restos mortais de Ingmar e Ingrid von Rosen, sua última companheira, descansam na rochosa ilha do Mar Báltico, perto da Suécia, que terminou se tornando uma Meca para os admiradores do diretor. Ingrid Bergman, a atriz, fez um único filme com o diretor, ‘Sonata de Outono’ (1978), contracenando com Liv Ullmann, e se relacionando com Bergman apenas profissionalmente.

Esta declaração da cineasta Mia Hansen-Løve (41 anos), que traz no currículo uma vigorosa filmografia como diretora (dez longas) e roteirista (de nove obras), é reveladora: Existem duas Fårö: aquela dos filmes de Bergman e aquela que você descobre quando chega lá. Se a Fårö que a gente descobre fosse exatamente igual àquela dos filmes dele, eu provavelmente não encontraria um espaço para mim mesma.”   Hansen-Løve faz de ‘A ilha de Bergman’ uma reverência  à Bergman e ao cinema.

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