O 16º Festival de Cinema Italiano apresenta ao todo 32 filmes divididos em duas mostras que acontecem desde ontem, online até o dia 05 de dezembro, na plataforma Petra Belas Artes à La Carte, e presencial até a próxima sexta-feira, 12, nas seis salas de cinema do charmoso complexo homônimo na cidade de São Paulo. Dividido em duas categorias, filmes inéditos e clássicos, o festival traz na primeira categoria a recente produção de uma das cinematografias mais vigorosas do mundo. Os filmes desta categoria estiveram todos na seleção do 78º Festival Internacional de Veneza.
O cinema Belas Artes foi aberto em 1967 na Rua da Consolação como uma grande sala. Em 1980, passou a ter seis salas após a divisão em espaços menores, recebendo cada sala o nome de um grande artista brasileiro de diversas áreas: Carmem Miranda, Villa- Lobos, Candido Portinari, Aleijadinho, Oscar Niemeyer e Mario de Andrade. Com a possibilidade de fechar suas portas em 2002, uma ação levou à restauração do espaço que foi reaberto dois anos depois, em 2004. Nova ameaça de fechamento definitivo se concretizou em 2011. Uma intensa mobilização (90 mil assinaturas em defesa do cinema) levou à sua reabertura com o apoio da Prefeitura de São Paulo e a Caixa Econômica em 2014. A cervejaria Petra se aliou ao projeto em 2019 e seu nome foi incorporado ao empreendimento.
Na mostra de filmes inéditos do festival (Mostra Contemporânea), destaca-se o filme de maior bilheteria deste ano na Itália, a comédia ‘Com todo coração’ (Com tutto il cuore, 2021), de Vicenzo Salemm, que concorre com os demais ao Prêmio Pirelli do público para o filme mais visto. ‘Com todo coração’ narra a história de Ottavio Camaldoli (Vincenzo Salemme), um professor de grande coração, amado por todos, que precisa receber um transplante do coração de um perverso criminoso. Esse fato vai mobilizar a crença da comunidade de que o coração de uma pessoa carrega os sentimentos e o caráter de quem o possui.
Outro filme, lançado este ano na Itália e que compõe a Mostra Contemporânea é o drama ‘Lovely boy’ (Lovely boy, 2021), de Francesco Lettieri, que tem como tema a vida atribulada do cantor Nic (Andrea Carpenzano), o Lovely Boy, sua ascensão e queda por imersão autodestrutiva no consumo de drogas. São produções lançadas entre 2020 e 2021, a exemplo de ‘Deixe-me Ir’, de Stefano Mordini, 2020; ‘A Terra dos Filhos’, de Claudio Cupellini, 2021; ‘Blackout love’, de Francesca Marino, 2021; ‘Uma Relação’, de Stefano Sardo, 2021; ‘Os Nossos Fantasmas’, de Alessandro Capitani, 2021; ‘Morrison Café’, de Federico Zampaglione, 2021, entre outros. Ver programação completa em https://www.cinebelasartes.com.br/programacao-especial/
‘As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano’, a retrospectiva exclusivamente online, se configura como uma excelente oportunidade para o público conhecer, ou rever, clássicos da cinematografia daquele país com trilhas sonoras que se tornaram cult dos lendários Ennio Morricone e Nino Rota, e dos menos célebres, mas festejados Nicola Piovani, Ritz Ortolani, Andre Guerra, Valerio Vigilar e Piero Piccioni. Inesquecível a canção ‘Amapola’ que compõe a trilha sonora de ‘Era uma vez na América’ (1984, 4h11min), de Sergio Leone, música tema da personagem Deborah Gelly, encarnada pela bela Elizabeth McGovern.
Federico Fellini, figura maior do criativo cinema italiano, se faz presente com ‘Os Palhaços’ (1970), trazendo trilha sonora de Nino Rota com quem o mestre manteve parceria longeva e nos presenteou com composições inesquecíveis que viraram marca registrada desses dois gênios. A velha guarda ainda se faz representar por Dario Argento e o seu terror ‘O Pássaro das Plumas de Cristal’, uma produção Itália/Alemanha de 1970, com música de Ennio Morricone; Lina Wertmüller com ‘Mimi, o Metalúrgico’ (1972, 120min), com música de Piero Piccioni e ‘Amor e Anarquia’ ( 1973 ); e Damiano Damiani com ‘Advertência’ (1982), filme de gênero suspense com trilha sonora de Riz Ortolani.
A diversidade de temas e estilos de direção deste festival em seus dois segmentos, com forte presença do gênero comédia, dá um panorama do que a Itália vem produzindo nos últimos dois anos, mantendo a tradição da comédia, um gênero que teve seu apogeu nos anos 1970 no país, cuja cinematografia legou ao mundo o “neorrealismo italiano” no pós-Guerra influenciando o cinema mundial com os geniais Vittorio De Sica, Luchino Visconti, Federico Fellini, Roberto Rossellini, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, entre outros. Torçamos para que outras mostras contemplem cada um desses mestres com suas obras mais emblemáticas.