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A ditadura franquista sob a ótica de um menino em “A língua das mariposas”

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O despertar de um garoto para o conhecimento coincide com a origem da Ditadura de Franco na Espanha a partir de 1936 e os horrores de um regime baseado num estado religioso e fascista. E, como em todo estado de exceção, a imposição de valores monocráticos para toda a sociedade vai interferir tragicamente nas relações humanas da gente de um vilarejo na Galícia, noroeste da Península Ibérica. Esse é a trama de A língua das mariposas (1999), dirigido por José Luis Cuerda, um dos filmes do cardápio da mostra “Volta ao mundo: Espanha” da plataforma Petra Belas Artes à la Carte, iniciada no último dia 03 e que ficará disponível até o dia 16 deste mês.

Depois de uma mostra dedicada ao cinema expressionista alemão, ao cinema francês, coreano e italiano, agora a sessão “Volta ao mundo” da plataforma Petra Belas Artes à la Carte programou uma mostra de cinema espanhol, com 12 filmes da terra de notáveis Buñuel e Almodóvar, que vão dos clássicos Viridiana (Luis Buñuel, 1961) e Cría Cuervos (Carlos Saura, 1976) a filmes mais recentes como O segredo dos seus olhos (Juan José Campanella, 2009), A língua das mariposas (José Luis Cuerda,1999) e documentário sobre Carlos Saura: Saura(s) (Felix Viscarret, 2017). Infelizmente, Almodóvar não se faz presente nesta mostra.

Uma das mais longevas ditaduras de direita no mundo, a ditadura do general Francisco Franco, durou 39 anos (1936-1975). O enredo de A língua das mariposas se passa no ano da queda da Segunda República espanhola com a chegada ao poder de uma coalização de monarquistas, católicos e nacionalistas imbuídos de uma ideologia ultraconservadora. Os ecos do início da derrocada democrática vai ser sentida abruptamente num vilarejo galego, onde vivem o menino Moncho (Manuel Lozano ) e sua família: a mãe Rosa (Uxía Blanco), uma católica fervorosa, o pai Ramón (Gonzalo Uriarte), um republicano ateu, e o irmão adolescente e sonhador Andrés (Alex de los Santos).
O perfil conservador da gente do povoado se faz sentir na sala de aula da escola onde Moncho, aos sete anos, tem suas primeiras lições com o professor Dom Gregório (Fernando Fernán Gómez). Ele não usa a punição física e nem a violência psicológica contra os seus pupilos, algumas vezes até reivindicadas por um dos pais. Dom Gregório, um senhor de idade avançada, tem ideias republicanas e evita pregações religiosas em suas aulas, preferindo a filosofia: “A liberdade estimula o espírito dos homens fortes”, expressa em uma de suas aulas. A cumplicidade entre o professor e Moncho é imediata. Dom Gregório conquista também a família do garoto. E a vida segue tranquila até que a República é tomada pelo fascismo.

O roteiro de A língua das mariposas é assinado por Rafael Azcona, Manuel Rivas e pelo diretor José Luis Cuerda, baseado em três contos do escritor galego Manuel Rivas, um deles dá título ao filme. Cuerda (1947-2020), além da direção (Amanece que non es poco, A educação das fadas, 2006; A floresta encantada, Tempo Depois, 2019), atuou na produção, inclusive de filmes de grande repercussão como Os outros, dirigido pelo amigo Alejandro Amenábar, que também compôs a trilha sonora para A língua das mariposas, filme de Cuerda que mais recebeu indicações para o grande Prêmio Goya de 2020 (treze ao todo), recebendo, no entanto, apenas o de melhor roteiro.
Em A língua das mariposas, Cuerda narra a vida cotidiana e prosaica de uma comunidade a partir do que experencia e percebe Moncho, um garoto tímido e amável, do mundo à sua volta. São as aulas divertidas com o educador complacente, a algazarra do recreio e as práticas de biologia no campo num ritmo pachorrento de uma vida que parece não passar. Seguindo essa pegada, a direção de Cuerda está em perfeita consonância com a história narrada: é o ritual diário da existência sem sobressaltos, até a deflagração da Guerra Civil Espanhola e sua repercussão na vida dos moradores do pacato povoado.

O cinema mainstream, em especial o estadunidense, tem aumentado em ritmo vertiginoso a duração média dos planos (DMP) dos seus filmes para imprimir um ritmo alucinante às suas narrativas de “ação” – ação aqui no sentido comum do termo para se referir àqueles filmes prenhe de perseguições e tiroteios. Em rigor, não existe narrativa (história), sem “ação”, isto é, sem conflito entre forças que se colocam em lados opostos. Para exemplificar o nível de aceleramento da duração dos planos que constroem uma narrativa de cinema industrial contemporâneo, entre os anos 1930-1960, a duração média dos planos num filme era de 8 a 11 segundos. A partir da década de 1990, a DMP já era de 2 a 8 segundos, com filmes empregando mais de duas mil tomadas para contar uma história.

No seu A língua das mariposas, Cuerda vai na corrente oposta, sem radicalizar sua mise-en-scène com planos longuíssimos e dispersivos. Lança mão de belos enquadramentos e imprime à sua narrativa o tempo ideal para sentirmos o ritmo que rege a vida das pessoas e suas pequenas ações. Não temos conflitos fortes fazendo a história avançar. A fruição se dá pelo prazer de seguirmos esses momentos triviais da vida dos personagens, da inocência da infância, seus momentos cômicos, a descoberta paulatina de Moncho da vida das pessoas ao redor e, por fim, do terror do fascismo com a Guerra Civil Espanhola dilacerando relações humanas.

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