Uma nota de repúdio foi divulgada por uma série de movimentos sociais e artísticos por causa de um comentário do apresentador Vinícius Henriques, do programa Rota da Notícia, da TV Arapuan. Na nota, as entidades dizem que o comunicador “cheio de malícia, tentou fazer com que o crime fatal sofrido por SIMÃO CUNHA, fosse visto sob óptica da insinuação – de que o mesmo teria tomado uma “atitude estranha” ao andar pelas ruas do Centro Histórico à noite. Enquanto não for revogada a atual Constituição Federal, nosso direito de ir e vir deveria ser garantido e respeitado”.
É muito estranho um professor, uma pessoa tarimbada, experiente, conhece aquela área, e não foi a primeira vez que ele foi ali porque ele era da Funjope, que fica ali na área. Aquela área é complicada, rola muita droga, bebida, muita coisa. Na esquina da praça fica a rua da Areia que é produtiva durante o dia, mas na noite é cabaré, rendez vous, é puteiro, com todo respeito, é cracolândia, até o delegado falou. Embaixo do viaduto da Cardoso Vieira, eu já fiz muita matéria de homicídios de usuários de crack, craqueiros e como é que um professor vai de madrugada por ali com um amigo? Tem que investigar esse caso. Eu não acredito na tese de assalto, não, mas uma pessoa experiente, à noite… não sei.”.
Confira a íntegra da nota de repúdio:
Ilma(o) Sra(o) Representante do Sistema Arapuan de Comunicação:
Nós, integrantes dos movimentos sociais e culturais organizados de João Pessoa, amigas, amigos e familiares de SIMÃO de ALMEIDA CUNHA, gostaríamos de expressar nossa profunda indignação diante das insinuações do apresentador Vinícius Henriques no programa Rota da Notícia, TV ARAPUAN, ao noticiar a morte prematura e criminosa de nosso companheiro de lutas, Simão. Ele era ator, diretor e professor de teatro; uma pessoa de imensa força que pautava sua vida em valores humanos devotados à cultura e à arte por uma sociedade mais justa e igualitária. Infelizmente, na madrugada do domingo, dia 06/01/2019, isso tudo lhe foi (e nos foi) roubado.
Agrava nosso sofrimento perceber que existem pessoas preconceituosas e aproveitadoras que tentam transformar a vítima no algoz. Quem deveriam estar comunicando com imparcialidade e acompanhando as investigações para denunciar o agressor, acaba por lançar dúvida sobre proceder da vítima. Esse apresentador, Vinícius Henriques, cheio de malícia, tentou fazer com que o crime fatal sofrido por nosso companheiro SIMÃO CUNHA, fosse visto sob óptica da insinuação – de que o mesmo teria tomado uma “atitude estranha” ao andar pelas ruas do Centro Histórico à noite. Enquanto não for revogada a atual Constituição Federal, nosso direito de ir e vir deveria ser garantido e respeitado.
Por fim, não é a primeia vez que o Sistema de Comunicação da Arapuan se indispõe com a classe artística. Recente ainda é o caso em que o também apresentador, Sikêra Júnior, proferiu palavras semelhantemente desrespeitosas contra a rapper Kalyne Lima. Acreditamos que tal qual o desfecho em que houve um Termo de Ajustamento de Conduta, a Arapuan poderá rever o posicionamento desse outro profissional e tomar as medidas cabíveis para minimizar os danos à memória desse nosso companheiro das Artes. Exigimos tempo de retratação e respeito permanente à classe artística e ao pleno exercício da cidadania.
Assinam esse documento:
Fórum de Teatro de João Pessoa – Pb;
MEL – Movimento do Espírito Lilás;
Maria Quitéria: Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais da Paraíba;
Movimento de Mulheres Negras na PB;
Coletivo de Arte Educadores Gira Contos Contadores de Histórias;
Varadouro Cultural;
Centro Cultural Espaço Mundo;
Waglânia de Mendonça Faustino e Freitas – Abenfo-PB (Associação Brasileira de Enfermagem Obstétrica da Paraíba);
Milena Medeiros – A Toca do Castelo: Casa de Investigações Artísticas;
Associação Cultural Balaio Nordeste;
Valério de Lima Ferreira
Casa Amarela Produções;
Priscilla Cler – Espetáculo A Erudita;
Janaína Ferreira dos Santos – Casa Queimada;
Caio Vinícius Ceragioli Vieira — Curso de Teatro do Theatro Santa Roza;
ACRAA Associação Cultural e Recreativa Anjo Azul. ( Clara Jerônimo , Norma Góes, Cristiane Fragoso, Ednamay Cirilo);
Bloco Carnavalesco da Folia de Rua – Anjo Azul;
Movimento Confraria de Malagrida;
Raabe Catarine Produtora Cultural e Cantora;
Grupo de Pesquisa da UFPb;
Mika Costa, atriz/performer/estudante de teatro da UFPb;
Fórum de Mulheres em Luta da UFPB;
Coletivo Intervozes;
Fórum Interinstitucional pelo Direito à Comunicação;
Itamira Barbosa de Lima (professora, atriz do Grupo de Teatro Engenho Imaginário); Samuel Barreto (Educador social de rua, estudante de pedagogia do campo da UFPb);
Luck’s Gomes (ator, performer, estudante de teatro da UFPb, pesquisador do grupo Radar 1);
Líria Morays (Professora da UFPb, dançarina, performer, coordenadora do Radar 1);
Angela Navarro (artista de dança e terapeuta corporal);
Alison Bernardes de Oliveira (ator produtor Cia. Os Cogitadores, Cia. Forrobodo de Teatro, Casa Núcleo);
Matheus Rodrigo da Silva;
Glaucia Lima, cantora;
Ponto de Cultura Castelo de Historias;
Aline Alencar. Atriz, professora e contadora de historias;
Rafaelle Lourenço Meneses, Contadora de Historias;
Mario Beserra da Silva.(Marinho), artivista.