O uso de Inteligência Artificial (IA) generativa ainda é algo recente, dado que tal ferramenta foi lançado há pouco mais de um ano, e sua incorporação ao dia a dia das redações tem se dado de forma paulatina. Pelo que tenho lido sobre o tema, percebo que, para fazer tarefas mecanicistas, como um resumo de notícias da semana ou a retrospectiva de fim de ano, o uso de IA pode ser muito útil.
Em algumas redações, a IA também vem sendo adotada em outros procedimentos, como criação de newsletter exclusivas, para interação maior com os internautas e mesmo na produção de conteúdo mais amenos, como uma dica de receita de bolo. Ferramentas de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, também podem ser usados para que um conteúdo seja corrigido de forma mais rápida; ou na produção do que chamo de matéria-formulário, em que o texto é básico e traz apenas dados de fontes oficiais ou de órgãos públicos; nesse caso específico, posteriormente, o veículo pode pautar um jornalista para incrementar a matéria com o componente humano (personagens etc.).
Dentre as desvantagens que identifico no uso de IA generativa, estão: desafio éticos; padronização do conteúdo, com textos sem personalidade; imagens sem “aura”, que logo de cara você identifica que foram feitas por Inteligência Artificial mesmo; e uso indiscriminado de conteúdo produzido por veículos de comunicação, mas sem os devidos créditos e sem pagamento ao autor original por isso.
A meu ver, uma das principais preocupações é a questão dos direitos autorais, dado o uso indiscriminado de conhecimento produzido por outros sem que se dê crédito às fontes originais. Sobre IA, o pensador Noam Chomsky já afirmou algo que dialoga com tal tema. Para Chomsky, “Esse é o maior roubo de propriedade intelectual já registrado desde que os colonizadores europeus chegaram às terras dos nativos americanos”.
Já Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais, acredita que o avanço dessas ferramentas representa uma “pirataria no grau mais alto”; evidenciando “desrespeito aos direitos autorais de quem produz conteúdo”. Em relação a isso, alguns jornais brasileiros, como Valor Econômico, O Globo e Extra, começaram a mudar seus Termos de Uso, desautorizando a utilização não pactuada de seus conteúdos pela IA.
Outra questão que acende um alerta importantíssimo é o tipo de conteúdo que grassa na internet, muitas vezes povoada de mentiras. Ora, se uma ferramenta de Inteligência Artificial se baseia nos dados e informações que estão disponíveis, se tal mecanismo é o resultado do aprendizado de máquina, nada impede que a curadoria feita por automação lance luz, muitas vezes, a inverdades.
Um sistema desse tipo pode aprender tanto que a terra é plana como que é redonda, o que pode ser muito prejudicial. Remontando à obra “1984”, de George Orwell, uma ferramenta de IA, como o ChatGPT, da OpenAI, ou o Bard, do Google, pode aprender que 2 + 2 é igual a 4, mas também que o resultado de tal soma é 5. Quem vai fazer a checagem desses dados? Aliás, várias redações mundo afora já definiram em suas diretrizes sobre uso de IA a exigência de verificação dos resultados apresentados pelas plataformas antes da publicação. E isso será feito por um humano.
Sobre possíveis demissões nas redações devido ao uso de Inteligência Artificial, acredito que a tendência é que tal uso não gere tanto impacto nas pessoas mais jovens, porque já nasceram em um mundo digital. Aos jornalistas mais antigos, o desafio é se adaptar ao cenário disruptivo. Com a crescente adoção da automação no jornalismo, imagino que não haverá redução no número de vagas, mas a busca por profissionais com habilidades mais afetas ao incremento de IA no dia a dia. Em todo o mundo, aliás, organizações de notícias têm rejeitado a ideia de substituir jornalistas por máquinas e destacam a importância do papel de tomada de decisão dos humanos ao usar ferramentas de IA. Enfim, como a adoção de tal tecnologia nas redações ainda é algo novo, só nos resta esperar os próximos capítulos.