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O documentário poético de Elisa Cabral na Mostra Cinelimite 

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O Programa 1 da Mostra Cinelimite dedicou um espaço a obras das “Mestras do Cinema Documental Brasileiro” com filmes das cineastas Helena Solberg, Eunice Gutman, Katia Mesel e da paraibana Elisa Cabral. A Mostra acontece entre os dias 19 e 28 deste mês, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Em 2015, me debrucei sobre parte da obra de Elisa Cabral com quem convivi nos estágios de cinema dos Ateliers Varan no Nudoc (Núcleo de Documentação cinematográfica da Paraíba) e no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais quando realizamos o documentário ‘Álbuns da Memória’ sobre a histórias da fotografia na Paraíba.

No artigo ‘Prazer visual e estética e o modo poético no documentário paraibano’ (Ver link abaixo) analisei os procedimentos estilísticos da série de curtas-metragens ‘Ritmos do Trabalho: uma poética visual’, dirigida por Elisa Cabral e Laurita Caldas entre 2000 e 2005, que diferem de outros modos de representação do real dominante na produção paraibana, cuja tônica é a narrativa. São filmes que fazem uso expressivo das imagens capturadas do real, enfatizando sua dimensão plástica, padrões de forma e cor, trabalhando mais os afetos e as impressões do que uma retórica ou relatos narrativos sobre o mundo histórico.

No cinema documental, o realizador arranja suas matérias de expressão (imagens e sons) a partir do real para elaborar um discurso sobre o mundo histórico. A organização desse material se dá por escolhas no âmbito da ética e da estética que se configuram como diferentes estratégias de representação do real. O modo poético, dentre os modos de abordagem do real identificados pelo teórico estadunidense Bill Nichols é o menos explorado como uma forma dominante na estruturação de uma obra documental de longa-metragem, aparecendo com mais frequência em cenas isoladas de um ou outro filme, ou, em sua totalidade, em filmes de curta-metragem.

A gênese do documentário poético tem origem nos empreendimentos radicais de experimentação da linguagem cinematográfica no contexto das vanguardas europeias do século XX cujas proposições estéticas, sobretudo no campo das artes plásticas, vão irrigar de forma vigorosa o fazer cinematográfico a partir dos anos 20. Temos em ‘Berlim, sinfonia da metrópole’ (Walter Ruttmann, 1927) e em ‘A chuvaa (Joris Ivens, 1929) dois filmes emblemáticos dessa abordagem do real.

Elisa Cabral e Laurita Caldas dirigiram sete curtas-metragens sobre os ritmos de ofícios milenares. São curtas documentais com duração entre quatro a seis minutos realizados entre os anos de 2000 e 2005 pela Olho-Poema Produções. Nenhum deles se propõe a narrar uma história no sentido comum do termo, ou seja, como o relato de acontecimentos reais ou imaginários, no entanto, trabalhando com a imagem figurativa (em movimento) apresenta pequenas ações que esboçam breves narrativas.

Esses curtas buscam uma abordagem poética do real que se encaixam na tipologia proposta por Bill Nichols. Em ‘Rítmicas (2000), a primeira imagem que se apresenta é da água de um lago refletindo uma luz alaranjada que lhe imprime uma textura incomum. A plasticidade das imagens criada com recursos, entre outros, à câmera lenta, torna a sequência de imagens de lençóis ao vento uma visão singular. “O outono tem algo mágico, e até faz crer que o sublime nos pertence (Goethe)” diz a legenda sobre a imagem de águas levemente agitadas que finaliza o filme.

Em ‘Entre Marés’ (2000), vamos encontrar também informações sobre o mundo histórico sem que os dois atores sociais na tela nos falem por um discurso verbal, o que sabemos deles é transmitido através de suas ações que revelam um ofício: a pesca e o artesanato. Em ‘Rítmicas’ é o trabalho das lavadeiras; em ‘Cânticos do fogo’, a atividade dos ferreiros; em ‘Tons de argila’, a criação de instrumentos musicais com barro; em ‘Entrecidas’, o trabalho das tecelãs; em ‘Com passos de moendas’, a fabricação de mel e rapadura nos engenhos de cana-de-açúcar; e, por fim, em ‘Cânticos da terra’, a extração da mandioca.

Nós, espectadores, tomamos contato com a realidade dessas profissões sem que uma voz over nos guie no seu argumento persuasivo como no modo de abordagem expositivo, ou que uma fala dialógica entre realizador e atores sociais nos faça tomar conhecimento acerca do universo retratado, a exemplo do modo participativo. Percebemos, ao analisar esses documentários de Elisa Cabral e Laurita Caldas, que há também uma dominante estilística que Fernão Ramos, teórico de cinema, denomina de “ética da imparcialidade ou recuo” porque apresenta a realidade sem uma interferência aparente para a apreciação do espectador.

Na mostra “Mestras do Cinema Documental Brasileiro”, na sessão que toca à  obra de Elisa Cabral, foram selecionados  os primeiros filmes da diretora: ‘O ciclo do caranguejo’, (1982) Visões do Mangue’ (1982), ‘Classes Sociais’ (1982) e ‘Tele-visões’ (1986). A mostra é uma parceria da Cinelimite com a revista digital feminista Verberenas para apresentar diferentes perspectivas de realizadoras sobre obras que tencionam questões de gênero, raça e classe social. Na obra de Elisa Cabral, incluindo sua produção em parceria com Laurita Caudas, encontramos o “prazer da imagem” do qual fala o francês Jaques Aumont, que não é só o prazer de quem as contempla (o espectador), mas também de quem as produz (o cineasta). 

Link para o artigo: https://periodicos.ufpb.br/index.php/cm/article/view/27209  

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