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No Cine Banguê, a jornada dolorosa e libertadora de um homem ao seu mundo interior

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‘Deserto particular’ de Aly Muritiba (2021, 120min) pode ser lido como um filme de amor político por tratar de um tema espinhoso para uma parcela conservadora da sociedade que tem revelado, sem pudor, toda sua intolerância impulsionada pelo discurso de ódio, aos quatro cantos do país, de um infeliz governo escancaradamente fascista e, felizmente, finito. O longa de Muritiba, em cartaz no cine Banguê do Espaço Cultural, arrebatou prêmios em diversos festivais no Brasil e no mundo e foi indicado para representar nosso cinema no Oscar.

Daniel (Antonio Saboia) é um policial afastado por um incidente numa ação e se dedica aos cuidados do pai doente enquanto o processo contra ele repercute. Com a irmã, que mora sozinha, tem uma boa relação. E, apesar dos pequenos conflitos, lhe dedica enorme carinho. Daniel conheceu Sara (Pedro Fasanaro)  numa rede social e a tem como seu único refúgio de paz e prazer para aliviar seus problemas cotidianos. Sem explicações, Sara não retorna mais as mensagens e chamadas de Daniel. Desesperado, ele se lança numa camioneta de Curitiba a Sobradinho, sertão da Bahia, em busca do que parece ser o bálsamo da sua vida.

 A partir daí, seguiremos a saga do atormentado Daniel Saboia, em mais uma impecável performance desde ‘Lamparina da Aurora’ (2017), de Frederico Machado, atravessando de Sul a Norte o país em busca de Sara. Esta também é a jornada de Daniel que levará a um auto conhecimento, a um mergulho interior no seu Eu jamais experenciado em toda sua vida. Bonito, hétero convicto, Daniel passou por outras relações. Agora, no entanto, resgatar aquela mulher é crucial para o seu sossego. Ele vai viver dias de buscas em Sobradinho e arredores, imprimindo fotos de Sara e colando pelas ruas, inquerindo pessoas e provocando desconfiança. Até que finalmente a encontra.

Além das questões existências tratadas pelo filme, ‘Deserto particular’ é também um filme político porque trata questões da ordem do dia para significativa parcela da população: a liberdade do pleno exercício do amor, longe de dogmas religiosos fundamentalistas que cada vez mais contaminam a nossa sociedade. É  luta política das minorias por uma existência digna, sem a histórica violência que tem exterminado vidas pelo simples fato dessas pessoas afirmarem sua existência. O filme de Muritiba se torna mais urgente do que nunca e, que bom, tem sido amplamente mostrado nas janelas mais importantes do país e do mundo, e mais ainda amplificado pela escolha da Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil no Oscar. 

Premiado com o Giornata Degli Autori do Júri Popular no 78º Festival Internacional de Cinema de Veneza, um dos mais festejados do mundo, teve estreia aqui na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Mix Brasil. Baiano de Mairi, cidadezinha do interior da Bahia, Aly Muritiba, 42 anos, ex-bilheteiro de metrô, conquistou com muita gana o status de realizador cinematográfico, surpreendendo com seus filmes viscerais. 

Com curtas-metragens super-premiados em festivais brasileiros e no exterior, se lançou no formato de longas. ‘Para minha amada morta’ (2015), que tem a paraibana Mayana Neiva como protagonista, foi agraciado com o Global Filmmaking Award do Sundance Institut, em 2013, para, dois anos depois arrebatar sete prêmios no Festival de Brasília, entre eles, o de Melhor diretor. Muritiba participou da versão online do Festival de Gramado com outro longa, o delicioso ‘Jesus Kid’ (2021), baseado na obra homônima de Lourenço Mutarelli, e saiu com os prêmios de Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Diretor. 

‘Deserto particular’ demonstra a maturidade de um diretor que tem se exercitado a direção e o roteiro em formatos e gêneros diversos. Em ‘Jesus Kid’, Muritiba nos agracia com uma comédia inteligente, parodiando filmes de gênero. Muritiba lança mão, em ‘Deserto particular”, de uma mise-en-scène, digamos, sóbria, com uma câmera mais contemplativa, sem estripulias, reveladora das inquietações e medos dos personagens, semelhante ao que empregou em ‘Para a minha amada morta’. Nessa escolha de uma cinematografia discreta, enxergamos o desejo de Muritiba de uma certa transparência, para que o espectador faça uma imersão no drama de Daniel e Sara/Robson. E não deixe a sala sem ser tocado por esse drama. 

 

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