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‘Desterro’ busca o distanciamento de uma narrativa convencional

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A diretora e roteirista carioca do longa-metragem ‘Desterro’ (2019, 123min), em cartaz no Cine Banguê do espaço Cultural, Maria Clara Escobar demonstra as possibilidades narrativas do cinema, distanciando do que chamamos de “narrativa clássica” sempre associada ao cinema industrial estadunidense (o cinema hollywoodiano). Essa crença engendrou um preconceito descabido ao longo das décadas, desde a instauração da forma narrativa cinematográfica em meados dos anos 1910 com D.W. Grifith, nos EUA. A partir daí, toda uma produção industrial de filmes se se estabeleceu dentro de um modelo de divisão de trabalho com setores especializados.

Na década seguinte, os movimentos de vanguarda vão questionar esse modelo hollywoodiano já em vias de consolidação em todo o mundo: o cinema soviético é o primeiro a recusar a continuidade narrativa sem, no entanto abrir mão de narrar uma história (‘Encouraçado Potemkin’, ‘A Greve’ e ‘Outubro’,de Eisenstein; ‘A mãe’, de Pudovkin, etc.), depois as demais vanguardas com suas experimentações formais e “não-narrativas”: o impressionismo de Germaine Dulac (com seu “cinema puro”, “a música dos olhos”), dadaísmo, expressionismo, surrealismo etc., todos enfatizando a máxima do cinema desobrigado de narrar histórias. No entanto, esses movimentos não se consolidaram enquanto estética dominante nas cinematografias ulteriores.

Essas experimentações se perpetuaram aqui e acolá em diversos momentos de alguns filmes narrativos, a exemplo de ‘Desterro’ que mais expressa do que narra, sem, contudo, deixar de ser narrativo. O filme se encaixa naquele vértice da pirâmide de Robert Mckee, em ‘Story’, quando o autor trata das narrativas (tramas) possíveis. A arquitrama, aquela que chamamos de clássica, com personagens bem delineados, objetivo claro e ações empreendidas na busca desse objetivo gerando conflitos na mesma proporção e que deverá chegar a uma resolução fechada. Quase nada disso está presente em ‘Desterro’ que tem como, digamos, protagonistas Laura (Carla Kinzo)e seu companheiro Israel (Otto Jr.).

Com muitos momentos mortos, onde nada de extraordinário acontece, o filme traz diálogos banais, algumas elocubrações existenciais e poemas referenciando diversos poetas, cujo argumento tem a colaboração da atriz protagonista e do cineasta Caetano Gotardo. O filme reserva acontecimentos fortes e surpresas que poderiam encaminhar a trama para um excelente thriller, mas não é esse o intento. Trabalhando uma trama frouxa, o que Mckee chama de minitrama, ‘Desterro’ enfatiza os conflitos internos do casal e dos personagens que vão surgindo ao longo da jornada de Laura. Numa minitrama não temos final fechado, nem protagonista ativo e único. É uma narrativa mais de atmosfera, de expressão de estados emocionais e de um mal-estar permanente – o desterro do título. Os personagens parecem não se sentirem encaixados no universo que habitam. O cotidiano parece insuportável.

Esta é a primeira ficção de Maria Clara Escobar que havia dirigido ‘Os dias com Ele’, documentário autobiográfico de longa-metragem (sobre sua relação com o pai) premiado pelo Juri Oficial e Juri Jovem no Festival de Tiradentes, no DocLisboa (Portugal), Cachoeira.Doc (Brasil), no Festival de Cine Internacional de Murcia (IBAFF, Espanha), V Semana dos Realizadores (Brasil), e no 35° Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de Habana (Cuba). Ainda no seu currículo, a diretora tem dois curta-metragens (também como roteirista) e roteirizou ‘Histórias que só existem quando lembradas’ (2011), de Julia Murat, do qual foi também diretora assistente. Este, teve sua estreia no Festival de Veneza e presença em mais 40 festivais com mais de 30 prêmios recebidos. ‘Desterro’ concorreu na Tiger Awards Competition do 49° Festival Internacional de Cinema de Roterdam.

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