A chef argentina Paola Carosella, de 49 anos, chegou em São Paulo em 2001, quando veio passar uma temporada por aqui ajudando o então patrão, Francis Mallmann, a montar o restaurante Figueira Rubaiyat. Nesse período, aconteceu o Corralito, confisco de depósitos bancários que transformou o dólar em peso, fazendo uma brutal desvalorização nos investimentos e poder de comprados argentinos. Quando voltou para a Argentina, vendeu a casa da mãe, o carro, doou móveis e roupas e se mudou de vez para São Paulo. Com quatro malas na mão e sem conhecer absolutamente ninguém. Justo ela, que hoje é uma celebrity chef, dona do badalado Arturito, aberto em 2008 em Pinheiros, e de La Guapa Empanadas, em vários pontos da cidade, soma mais de 5 milhões de seguidores no Instagram e volta e meia causa frisson nas redes por seu ativismo, geralmente ao redor de temas que vão de política a defesa do alimento fresco e de qualidade, passando por movimentos que falam do desperdício de alimentos.
O status de celebridade, Paola sabe, vem muito por conta do programa “Masterchef”, da TV Bandeirantes, que participou desde 2014 e fez sete temporadas. Ela é parada na rua por fãs e seus empreendimentos são sucesso. Famosa por não temer dar suas opiniões sobre assuntos muitas vezes polêmicos, agora, ela está envolvida em mais um caso que vêm abalando as redes sociais. Na segunda-feira, durante uma entrevista ao DiaCast, canal do YouTube, a argentina criticou os eleitores de Jair Bolsonaro (PL). Ela declarou que é “muito difícil se relacionar com quem apoia Bolsonaro por dois motivos: ou porque é um escroto, ou porque é burro”, disparou. Em outro momento, declarou que “já ficou muito claro que não teve programa de governo, que (ele) não faz a mínima ideia do que está fazendo, que está lutando contra um comunismo que não existe”.
Apesar de na Internet a imagem de Paola e seu restaurante ter perdido popularidade por conta da campanha de apoiadores do presidente, na terça-feira o Arturito manteve seu sucesso: a fila de espera para uma mesa de duas pessoas chegava a 40 minutos às 12h30 e as reservas para sexta, sábado e domingo já estavam esgotadas.
O valor dos pratos, apesar de estarem na média de restaurantes de São Paulo, também têm sido alvo de internautas que ficaram com raiva da declaração da chef. O menu do dia, chamado de prato do agricultor, sai por R$ 55. Já os pratos mais caros do cardápio são a anchova assada no forno a lenha com molho tahine verde e abóbora assada (R$ 120) e o corte de carne brasileira sustentável (com bois criados sem veneno, pastando livremente) com gratin de mandioca, mandioquinha e batata e molho chimichurri (R$ 180).
A questão do preço sempre foi uma preocupação de Paola. Defensora de que comida de qualidade não precisa custar tanto, diz que o preço final do prato tem que ser uma porcentagem da matéria-prima (todos os fornecedores são escolhidos por ela), da folha de pagamento, dos custos de manter o lugar, da “grande fatia de impostos do Brasil” e de uma fatia de “lucro lógico” para o chef que, “com muita sorte, não deve ser superior a 12%”. “Muita gente vem ao Arturito e diz que o restaurante não é nada demais. Não é nada demais mesmo. Quem vem esperando um Alex Atala não encontra. A pesquisa dele é outra. O que eu faço é um delicioso frango com batata”, disse ela em entrevista ao “Ela”.
Além da fama de boa cozinheira, Paola tem 1,77 metro, uma beleza exótica de traços fortes e fala doce. Pensa bastante antes de expressar sua opinião. Não faz dieta. Mas, se come duas empanadas no almoço toma somente sopa no jantar. Adora acompanhar o programa pelo Twitter, “para saber o que as pessoas estão pensando”. Já foi convidada para posar nua, mas recusou, afinal, diz : “Sou uma mera cozinheira.”
Cozinheira que nasceu de uma família de classe média baixa, de imigrantes italianos, na periferia de Buenos Aires. O pai era bipolar e passava longos períodos internado. Ele e a mãe de Paola, filha única, se separaram quando era ainda pequena. “Fomos sempre nós duas mesmo. Nos mudamos para Buenos Aires, minha mãe foi fazer faculdade de Direito. Nossa vida foi bem difícil, melhorando aos poucos”, conta Paola.
Aos 18 anos, ela sabia o que queria fazer da vida. Foi trabalhar como secretária e o patrão, quando soube que cozinhava bem, convidou-a para preparar os almoços da empresa. Aí foi conseguindo outros empregos por restaurantes em Buenos Aires. Até que a mãe lhe deu, em 1992, uma viagem para Paris, onde estagiou por seis meses. Cinco anos depois, estava no importante grupo de Francis Mallman na Argentina, onde fez carreira até chegar a São Paulo com quatro malas.
O Globo Online