Uma foto publicada por Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, causou uma celeuma política, regional e culinária.
Wagner Moura comendo uma quentinha na ocupação do MTST onde fizemos ontem a exibição popular de Marighella. Foi potente! Viva a luta do povo! pic.twitter.com/RtXR00KB49
— Boulos 5️⃣0️⃣1️⃣0️⃣ (@GuilhermeBoulos) November 12, 2021
Diga lá, leitor, você reconheceria um acarajé se ele estivesse com os ingredientes separados em um prato? O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) não reconheceu. Em sua conta no Twitter, nesta sexta-feira (13), o filho do presidente Jair Bolsonaro ensaiou uma crítica ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) por servir camarão ao que o deputado chamou de “elite do partido”.
A foto que o deputado usa para ilustrar sua crítica é a do ator Wagner Moura comendo acarajé no prato (em uma marmita plástica, para ser mais exato) durante um evento na ocupação Carolina de Jesus (zona leste) em que o seu filme Marighella foi exibido.
Agora tem o MTST raiz e o MTST nutela.
Ou será que já é o comunismo purinho, onde a elite do partido come camarão e o restante se vira e passa fome igual à exemplar Venezuela? pic.twitter.com/FV3Ao0QsI5
— Eduardo Bolsonaro 22.22?? (@BolsonaroSP) November 12, 2021
Prato popular da cultura africana e afro-brasileira, o acarajé leva em sua receita o vatapá. E o vatapá, nada mais é, do que camarão refogado com azeite de dendê, cebola e outros ingredientes misturado a pão batido e fervido, temperado com sal e pimenta e servido como recheio do acarajé ou no prato.
O deputado Bolsonaro não foi o único a criticar o cardápio do ator.
Quentinha Gourmet do MTST: camarão, acarajé, bobo de camarão. ??
Quem diria hein, o MTST está comendo melhor que eu
Esse pessoal vive em um universo paralelo…
Luta do povo?!? ???? pic.twitter.com/QidPQulwQl— Thais?????? (@thaispsic) November 12, 2021
O próprio Guilherme Boulos repercutiu o caso no Twitter. Para ele, a raiva que a foto de Wagner Moura comendo acarajé no prato na ocupação em São Paulo “mostra que o bolsonarismo vibra com a fome e, acima de tudo, desconhece a cultura brasileira”.
“Quem gosta de ver pobre roendo osso é o Bolsonaro”, escreveu o MTST, relembrando foto de Eduardo Bolsonaro vestido de xeque em viagem ao Oriente Médio.
Nosso carinho e nossa gratidão a https://t.co/P7it7lFCRw pelos acarajés deliciosos!
Nosso rolê é socializar comida e moradia pra todos. Camarão tb. Quem gosta de ver pobre roendo osso é o Bolsonaro, contra quem estamos indo protestar hoje por estar causando… Fome! Vejam só. pic.twitter.com/QGnNplsHxP
— MTST (@mtst) November 13, 2021
O restaurante que fez a doação do cardápio para o evento, o Acarajazz, também fez menção ao caso. No perfil oficial do estabelecimento, a foto de Wagner Moura traz na legenda um novo apelido para o prato: “vatapazinho polêmico do amor”.
Há uma razão para que o acarajé estivesse desmontado. A cozinheira disse à Folha que o Acarajazz levou cem acarajés prontos e cinco kits com o equivalente a 50 acarajés. Os kits tinham vatapá e outros ingredientes separados, para serem comidos no prato. “Era o que eu tinha aqui, comprei ingredientes de última hora, até dinheiro emprestado pegamos”, afirma.
O que Wagner Moura tinha em mãos na foto era um dos cinco kits e, segundo Alves, ele foi um dos primeiros a se servir. “A maior parte das pessoas que comeu eram as que moravam na ocupação”, disse.
O assunto está entre os mais comentados do Twitter neste sábado. Bolsonaristas estão associando o prato ao restaurante Coco Bambu.
Críticos do governo, no entanto, ironizam o elo criado com a franquia.
Marighella e Boulos pediram delivery do Coco Bambu? https://t.co/99ZUTX1WZ8
— Silvio Navarro (@silvionavarro) November 13, 2021
Pessoas na fila do osso.
Silêncio da direita.
Pessoas do MTST comendo camarão
Nooooossaaaaa olha o prato dele noooosssaaa que hipocrisia noossaa não tem casa e come camarão noossaaaaa
A pobreza não incomoda essa gente, mas a possibilidade da pessoa pobre ter vida digna, sim.
— Elika Takimoto – 13021 (@elikatakimoto) November 13, 2021
Esse episódio do camarão expõe não apenas o quanto essa galera odeia pobre com tds as forças, mas tb o tamanho da ignorância a respeito de tudo que não seja do mundinho Coco Bambu que eles vivem (onde aparentemente camarão é item de luxo).
— junior moreira (@osonoplasta) November 13, 2021
Matheus Moreira, Folha de S. Paulo