Notícias de João Pessoa, paraíba, Brasil

Rumo ao fascismo?

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

Em 2010 foi publicada uma obra coletiva pela Edusp/Arquivo Público do Estado de S. Paulo e Imprensa Oficial e  organizada por Maria Luiza Tucci Carneiro e Federico Croci  com o título “Tempos de fascismos – Ideologia – Intolerância – Imaginário,  na qual participaram 21 autores. Nela, são analisados diversos aspectos do fascismo, entre eles a negação da diferença, as vozes da intolerância  e as experiências do Estado Novo Salazarista (Portugal) e o estado fascista italiano (intolerância, repressão e controle social).

Nos artigos sobre o fascismo no Brasil, as análise são circunscritas, basicamente,  as décadas de 1920-40. No artigo “Fascistas à brasileira, encontros e confrontos”,  Maria Luiza Tucci Carneiro  afirma que foi no primeiro governo de Getulio Vargas (1930-1945) que as idéias e os partidos fascistas encontraram campo fértil para proliferar e conquistar segmentos importantes da população brasileira e que os nacionalismo alemão e italiano se transformaram em fonte de inspiração para o modelo de Nação que se pretendia construir no Brasil  e no qual a policia política serviu de braço armado da ditadura.

O fim da ditadura do Estado Novo em novembro de 1945, com a deposição de Vargas, pôs fim a essa experiência nefasta da história política brasileira.  Mas o germe do fascismo continuou presente na sociedade brasileira e hoje, ao que tudo indica, ressurge com força, só que, desta vez, não centralizado na figura de um ditador e tampouco, obviamente, tendo como referência a Itália e a Alemanha. Trata-se do ressurgimento do fascismo numa sociedade na qual esse germe não foi exterminado.

Nesse sentido, alguns analistas têm alertado para o crescimento do fascismo no país. É o caso de Luis Nassif, jornalista e editor-chefe do Jornal GGN que em duas intervenções recentes – uma  em vídeo e  outra em um artigo – alertou  para o fato de que os direitos consagrados na Constituição (de 1988)  tem sido atropelados por uma onda fascista. Para ele “Não é força de expressão. É onda fascista, efetivamente”.

No vídeo,  divulgado no dia 6 de abril de 2018,  comenta a ordem de prisão contra o ex-presidente Lula no caso triplex e afirma que  o episódio deixou claro que uma ditadura do Judiciário está em vigor: “Rasga-se a fantasia. Efetivamente, estamos hoje numa ditadura. Uma ditadura que vem do Judiciário, do Ministério Público, Polícia Federal e órgãos de controle”.

Para ele, “Nós estamos hoje numa ditadura em que não tem nenhuma forma de segurança. Essa questão dos direitos, a qualquer momento a PF bate na porta e leva preso… É um momento triste. No lugar de desanimar, tem que trazer gente para a linha de frente para impedir que o Brasil mergulhe em algo que parecia extinto pelos avanços da humanidade e voltou, aqui, com plena força: o fascismo.”

Há poucos dias, as violências contra a caravana do ex-presidente Lula, no sul do país, culminando com um atentado a tiros no Paraná (ainda não esclarecido) evidenciam  o clima de intolerância e violência que toma conta do país, que pavimenta o caminho do fascismo. Poucos antes dos episódios da caravana  houve a execução de uma vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ao quer tudo indica, por grupos que agem como braço armado da extrema direita. Foi assim na Itália fascista e na experiência nazista da Alemanha. Na ausência de argumentos, o uso da violência contra os adversários. Esse é um recurso típico dos fascistas com o objetivo de se impor através da violência e, portanto, do temor. Mas para isso é preciso mobilizar seus adeptos, entre eles setores da classe média, contando com a tolerância de quem deveria reprimi-los e o silêncio conivente de setores da mídia e do parlamento (partidos de direita).

No artigo “De onde vem o fenômeno do fascismo” , Breno Altman,  jornalista e fundador do site Opera Mundi, fez uma análise da escalada fascista no país e afirma que “Durante quase três décadas, desde a redemocratização, a franja fascista da sociedade brasileira sentia-se aprisionada e se comportava de forma constrangida. Suas opiniões reacionárias, racistas e discriminatórias eram motivo de vergonha. Disfarçava-se de algo mais ameno e palatável. A direita se escondia sob diversas máscaras, do liberalismo à social-democracia, fugindo de sua identidade secular”.

Para ele, os triunfos dos governos petistas foram levando essa coalizão às trevas, adotando discursos que soltaram o neofascismo de suas amarras: o objetivo é o de destruir a esquerda (e os democratas em geral) e para fazer isso torna-se necessário a  mobilização das classes médias (que foi fundamental para a ascensão e permanência do fascismo na Itália) “ tarefa para a qual tornava-se imprescindível uma direita militante”. Para ele, o bolsonarismo “não brotou do asfalto ou de eventuais talentos do seu líder. Saiu do armário e ganhou as ruas pelas mãos do PSDB e de seus aliados, de parte dos meios de comunicação, de setores do sistema de Justiça, de frações das Forças Armadas e de segmentos expressivos do empresariado e seus seguidores se constituem na tropa de choque do bloco que tomou o governo de assalto. São a vanguarda mais ativa dos patos e panelas que serviram como banda de música da ruptura constitucional”.

Num momento tão delicado para a democracia no país,  há um sentimento de ódio irracional, de intolerância, muito difundido na sociedade brasileira que cria as condições para  a expansão do fascismo. Daí a necessidade de um  “combate firme e unitário, até que seja obrigado a retornar para a jaula da qual foi libertado” Mas essa batalha, como diz Altman, fundamental para a reconstrução da democracia brasileira, jamais será vitoriosa se não forem derrotados também aqueles que abriram o cadeado.

No artigo “Confusão política, fascismo e caos institucional” Aldo Fornazieri –  defende a necessidade urgente de se formar uma frente antifascista (dentro e fora do Congresso Nacional). Para ele “ as esquerdas estão demorando para  fazer isso, não para concorrer às eleições,  mas para defender a democracia e  barrar a violência política que ameaça a todos os democratas.

Segundo Fornazieri “os grupos que se articulam em torno da candidatura Bolsonaro, do MBL, do Vem Pra Rua, do Ceticismo Político e de outros movimentos, estão constituindo as bases políticas do fascismo no Brasil. Numa situação de caos político e institucional, de anomia social, de crise econômica e, diante da percepção de que dificilmente a extrema direita chegará ao poder pela via das eleições, a opção paramilitar poderá ser incrementada.

Um aspecto relevante nesse processo é o fato de que os poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário “estão desmoralizados e boa parte dos cidadãos não acredita em saída política. Esta é uma massa disponível para ser manobrada pela ideologia fascista. Daí a urgência de articular uma frente e adotar medidas antifascistas e de defesa da democracia”.

A referência ao colapso da autoridade é de fundamental importância  porque um dos componentes da escalada fascista é a desmoralização da Constituição: são muitos atos ilegais e contra a Constituição que se tem cometido inclusive por quem deveria salvaguardá-la para a garantia de direitos.  Como afirma Luis Nassif “Multiplicam-se os exemplos das decisões arbitrárias, como foi o caso das prisões de reitores de universidades, de intelectuais, invasão de escritórios e residências de advogados “inimigos” (…) e espalham-se as tentativas de procuradores de interferir no conteúdo das universidades e proibir manifestações de pensamento. a desmoralização e a descrença nas autoridades constitucionais cria as condições para o crescimento do fascismo que não nunca utilizaram nem  utilizarão métodos democráticos e pacíficos na luta política”.

A luta hoje deve ser contra o fascismo e a consolidação do Estado de Exceção, em defesa da democracia. Nesse sentido um dos maiores desafios de todos os democratas é como diz Nassif, um pacto contra os hunos, ou seja, preparar-se e organizar-se para deter a escalada fascista.

Tags

Leia tudo sobre o tema e siga

MAIS LIDAS

Arthur Urso leva “esposas” para passear sem roupa íntima na orla de João Pessoa

Professores da UFPB desistem de candidatura e apoiam Terezinha e Mônica

Anteriores

chuva FOTO Pixabay

Paraíba tem alerta de chuvas e ventos fortes para o Litoral, Agreste e Brejo

papa francisco dilma rousseff

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Busto de Tamandare_KleideTeixeira_-14-1024x683

Dia do Trabalhador será comemorado em João Pessoa com ato no Busto de Tamandaré

wilson filho deputado estadual 2024

Lei de Wilson Filho garante passe livre na Paraíba para inscritos no Enem

mosquito dengue FOTO Pixabay

Estado de São Paulo registra primeira morte por febre amarela de 2024

praia coqueirinho bombeiros pb

Bombeiros resgatam idosos levados pela correnteza no mar da Praia de Coqueirinho

Prédio do Ministério da Educação

Convocação de lista de espera do Fies é prorrogada até 17 de maio

viatura PMPB

Idoso condenado em São Paulo por estuprar criança é preso na Paraíba

policia federal viatura pf Foto Arquivo-Tomaz Silva-Agência Brasil

Polícia Federal prende homem com R$ 1.000 em notas falsas em Patos

Morre aos 95 anos ator paraibano José Santa Cruz

Morre ator paraibano José Santa Cruz, ex-integrante do Zorra Total e dublador do Dino