O trajeto para conseguir um posto importante como representante do Brasil no exterior pelas vias convencionais é longo e difícil. Além de passar no Concurso de Admissão à Carreira Diplomática e de trabalhar duro durante décadas, para assumir uma embaixada de prestígio é necessário também ter se destacado, e muito, como diplomata. Entretanto, políticos sem nenhuma ligação com o Itamaraty e com pouca vocação diplomática aparente conseguem furar a fila e assumir embaixadas como Roma, Lisboa e Havana sem nenhum esforço.
Aconteceu, por exemplo, com o ex-presidente da República Itamar Franco. Itamar, que já havia sido embaixador do Brasil em Lisboa na década de 90, assumiu a representação brasileira em Roma em 2003, no início do governo Lula. O posto é um dos mais cobiçados pelos diplomatas de carreira, mas não agradou o ex-presidente. Apesar de morar em um dos mais grandiosos prédios de Roma, o Palazzo Doria Pamphili, Itamar se sentia deprimido. Segundo reportagem da revista Istoé, por não falar italiano, Itamar não se reunia com empresários e autoridades do país. Em 2005, com saudade das montanhas de Minas, ele pediu exoneração. Hoje, Itamar é vice-presidente do PPS (Partido Popular Socialista).
Antes de Itamar, a Embaixada em Roma era comandada por Andrea Matarazzo. Indicado por Fernando Henrique Cardoso, ele também furou a fila dos diplomatas. Após deixar o posto, Matarazzo teve cargos na administração municipal de São Paulo, sendo subprefeito da Sé e secretário de Coordenação das Subprefeituras. Hoje, o embaixador na representação brasileira na Itália é José Viegas Filho, diplomata de carreira que entrou no Itamaraty pelo Insitituto Rio Branco em 1964, e já foi embaixador em Madri (Espanha), Moscou (Rússia) e Copenhague (Dinamarca).
O ex-petista Tilden Santiago também furou a fila dos diplomatas. Após não conseguir se eleger senador por Minas Gerais, foi escolhido embaixador em Havana durante o primeiro mandato de Lula. De volta ao Brasil, aceitou um cargo numa estatal mineira sob o governo Aécio e teve que deixar o PT.
O ex-deputado Paes de Andrade (PMDB-CE) também ocupou uma vaga sem precisar fazer concurso e carreira de diplomata. Indicado como embaixador do Brasil em Portugal em 2003, ficou no cargo até o início de 2007, quando, por divergências com o ministro Celso Amorim, foi substituído.
Usado, muitas vezes, para colocar políticos que perderam eleições em algum posto, o procedimento é amparado pela lei que regula o Serviço Exterior Brasileiro. Diz o parágrafo único do artigo 41 da Lei 11.440, de 2006: "Excepcionalmente, poderá ser designado para exercer a função de Chefe de Missão Diplomática Permanente brasileiro nato, não pertencente aos quadros do Ministério das Relações Exteriores, maior de 35 (trinta e cinco) anos, de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao país."
R7